O que é Dependência de Amor e Sexo?
O DASA acredita que a dependência de amor e sexo é uma doença, uma doença progressiva que não pode ser curada, mas, como várias outras doenças, pode ser detida. Ela pode tomar várias formas - incluindo (sem limitar-se a) uma necessidade compulsiva por sexo, dependência extrema de uma pessoa (ou várias) e ou preocupação crônica com romance, flerte ou fantasia. Existe um padrão obsessivo/compulsivo, seja sexual ou emocional (ou ambos) em relacionamentos ou atividades sexuais que progressivamente se tornaram destrutivas para a carreira, família e senso de auto-respeito. A dependência de amor e sexo leva a conseqüências cada vez piores se não for cuidada a tempo.
Antes de vir ao DASA, muitos dependentes de amor e sexo, se consideravam párias sociais, pervertidos ou apenas fracos. Outros ainda sentem que só estão perseguindo o que é de seu direito. Eles se sentem com permissão à auto-complacência. A teoria doDASA é que os dependentes de amor e sexo são pessoas doentes que podem se recuperar se seguirem um programa simples que se mostrou válido para muitos homens e mulheres com a mesma doença.
Há 10 anos !
Eu nasci há 10 anos atrás...
Minha vida estava totalmente ingovernável, trabalhava 14 a 16 horas por dia, mantinha um relacionamento matrimonial falido há 03 anos, dívida financeira estratosférica, uma dor gigantesca antes, durante e depois de fazer sexo com qualquer pessoa a qualquer hora em lugares públicos, desligamento emocional de minha filha, em litígio com Deus, precisava de ajuda, mas não sabia onde e como encontrar.
Meu comportamento sexual a cada dia tornou-se mais compulsivo, precisa fazer sexo mais vezes ao dia, na busca incessante de migalhas de afeto, afago, validação e acolhimento, me tornei um escravo daquilo que antes era o bálsamo para as dificuldades que não sabia lidar, fiquei dependente do meu próprio anestésico. A cada desconforto buscava anestesia em práticas sexuais - prostituição, sexo anônimo, masturbação, vídeos pornográficos, promiscuidade - porque não me ensinaram como ser auto-suficiente, independente, assertivo. Tive na infância e adolescência uma dose cavalar de invalidação maquiada de "amor, proteção e zelo" - água de mais mata a planta, e me afoguei na insegurança, baixo-estima, auto-sacrifício por longos anos.
Foi quando encontrei a Irmandade e ingressei em DASA, uma década atrás. Ao vivenciar o Programa de DASA, confesso que relutei bastante antes de me reder incondicionalmente, fui tirando várias camadas da minha cebola. Frequentei as reuniões, fiz os passos, encontrei um padrinho, prestei serviços, refiz minha relação com Deus, somente assim, pude identificar muitas coisas, situações, personagens reais e imaginários, sentimentos, emoções, e ainda, continuo, até hoje, separando o joio do trigo, buscando um dia de cada vez encontrar minha verdadeira identidade. Sucumbi várias vezes, com recaídas homéricas, até tentei suicídio, tive a perseverança das ondas do mar que a cada recuo, onde encontrei nas promessas do programa, mais força para voltar.
Já faz algumas 24 horas que não me prostituo e não sou promíscuo. Só por hoje! Mantenho meu propósito diário de eu ser a pessoa mais importante da vida.
Sou portador de uma doença incurável - de amor e sexo - mas que tem tratamento eficaz, onde posso viver com qualidade, dignidade, felicidade e ter serenidade em meus dias. Hoje trabalho "apenas" 08 horas por dia, quitei todas as minhas dívidas e empréstimos, mantenho um relacionamento afetivo e intimidade com minha filha, fiz uma retirada unilateral do meu antigo relacionamento e de todas as pessoas próximas e baseio minhas relações no respeito, intimidade e confiança, principalmente, a mais importante a minha comigo mesmo.
Graças à misericórdia do Poder Superior estou vivendo a vida como ela é sentindo emoções e não mais anestesiado. O programa funciona, mas para isso tenho que continuar mantendo a equação que salvou minha vida - reunião+passos=sobriedade.Que possamos ter mais um dia de paz e serenidade.
- , um companheiro em recuperação
Optando pelo Amor
Não preciso amar: eu escolho amar
Por ter nascido numa família disfuncional, onde o clima emocional e espiritual era permeado pelo medo, raiva, vergonha e culpa, cresci alimentando um mecanismo de sobrevivência que me impedia de manter uma autêntica intimidade com outro ser humano, uma vez que não pude desenvolver a capacidade de confiar.
Os constantes e variados tipos de abusos que sofri por parte das pessoas significativas na mais tenra idade fizeram com que eu vivesse num constante medo de ser exposto a situações vexatórias e dolorosas e que acabou formando uma personalidade extremamente ansiosa e medrosa.
A dependência de sexo e relacionamento foi o mecanismo que se apresentou e com o qual me identifiquei para sobreviver e poder dar vazão ao acúmulo de emoções negativas de tantos anos (sensação de vazio, inadequação, vergonha, medo, ansiedade, raiva e outras mais). A sensação de desligamento que encontrava em cada situação romântica e/ou sexual foi o elixir do prazer imediato que me possibilitou por momentos me afastar de minha própria realidade emocional e espiritual.
Não me lembro de, em nenhum momento da minha vida. ter sido passada a informação de que eu sou um ser único, um representante individualizado da Essência Divina, deste Ser que me faz ser.
A constante exposição a este ambiente disfuncional, com toda sua carga emocional negativa, fez com que eu me afastasse gradativamente desta minha Essência Divina. Hoje sei que inconscientemente, o que eu buscava em cada relacionamento ou situação sexual, era o preencher da minha "sede de plenitude", que só poderia ser saciada através de uma conexão direta com o Divino. Durante anos, insiste de várias maneiras, na busca dessa conexão através de mecanismos externos, onde muitos deles, acabaram por se tornar em verdadeiras prisões adictivas.
Hoje, em recuperação, consigo ver que tanto a dependência de sexo e relacionamento quanto a recuperação, me levaram a tipos diferentes de isolamento (uma espécie de deserto emocional/espiritual). Na busca do prazer imediato, acabava por me afastar cada vez mais de mim mesmo (minha realidade interna), das pessoas (que se permitiam à vitimização imposta pela minha doença) e da idéia preconcebida do deus vingativo e castrador.
Lembro-me que durante a minha ativa tinha a vontade de "me fundir" junto ao corpo das minhas "amadas", o que mostra bem o anseio inconsciente de unicidade, de totalidade expressa tão somente através da experiência direta do Divino, fruto da aplicação contínua dos princípios espirituais contidos em nossos Doze Passos e Doze Tradições, comumente conhecido em anônimos como "despertar espiritual" - um verdadeiro oásis de bem-estar e unidade espiritual
A recuperação me levou ao isolamento dos objetos anestesiantes, das pessoas da ativa e a um dos isolamentos que qualifico com dos mais importantes de toda a minha vida: a morte de Deus. Não teria como iniciar uma verdadeira recuperação sem o descartar do pré-conceito religioso de um Deus masculino, punitivo, castrador, uma espécie de homem superior não amoroso (a visão que eu tinha de deus era a mesma que se apresenta na pintura de Michelangelo, na capela de Sistina).
Vivi por muitos anos de modo inconsciente aceitando as "doações de fora" provenientes de uma sociedade que me bombardeava maciçamente com mensagens que me prometiam a satisfação das minhas mais profundas necessidades, por meio de situações externas (transbordantes de conotações sensuais e amorosas). Essas mensagens apelavam não apenas para a minha vaidade ou desejos emocionais/sensuais, mas também pelo anseio da conexão com o Divino (mensagem subliminar, ou seja, um estímulo que não é suficientemente intenso para que o indivíduo tome consciência dele, mas que, repetido, atua no sentido de alcançar um efeito desejado). Passei por longos anos acreditando que o relacionamento perfeito, o tipo de "transa perfeita", a "profissão perfeita" e outros tipos de "finitos absolutos", poderiam resolver minha divina inquietude interna. Acreditei no absurdo contido em frases do tipo: "a metade da minha laranja", "a tampa da minha panela", "minha outra metade", "minha alma gêmea", que se tornaram uma verdadeira obsessão, alimentadas sempre pelas constantes mensagens e imagens visuais e sonoras de cunho romântico e/ou erótico. Quanto mais bebia dessa água, mais sede sentia; verdadeiras miragens no deserto. Foi preciso questionar e descartar totalmente os velhos, arcaicos e disfuncionais sistemas de crenças que me mantiveram enclausurado na masmorra da minha adicção, que me impediu por anos de vasculhar o interior do castelo e encontrar o "reino espiritual".
Hoje, não é mais possível falar sobre o amor, através do mito romântico. Minha compreensão de amor se ampliou, através da ampliação de minha consciência: Deus é amor manifesto em minha consciência. Isto me está claro e bem impresso no 11º Passo (melhorar meu contato consciente com o Deus da minha concepção) e na 2ª Tradição (um Deus amantíssimo que se manifesta na minha consciência). Para mim, amor é a vontade de me empenhar ao máximo para nutrir o meu próprio crescimento espiritual que resulta na ética de nutrir o crescimento espiritual de outros que como eu, não se entregam mais ao "conformismo social, ou se preferir, normose horizontal. Amor é verticalidade. Amor é a eterna procura pela transcendência dos próprios limites impostos pela conformidade aos ditames sociais e familiares, para um estágio de maior consciência. Optar pelo amor é dedicar-me ao desenvolvimento da capacidade de amar; é dedicar-me à raça da qual faço parte. Não posso ser uma fonte de amor, ao menos que tenha uma "autêntica experiência interna do amor" e que procure manter o meu próprio bem-estar e unidade interna, através de momentos de silêncio e solitude e isso não é um trabalho fácil, feito sem esforço de minha parte - muito pelo contrário: é o trabalho e o sentido de toda uma vida.
Optar pelo amor é optar pela busca constante de um maior contato consciente com o Divino, com o universo, uma busca pelo relacionamento de minha alma com o Divino - uma união mística, a qual só pode ser realizada por meio da auto-renúncia de seguir aos ditames do meu egocêntrico eu compulsivo.
Optar pelo amor implica em atenção, dedicação, compromisso, fidelidade e exercício constante de "confiança na voz silenciosa da intuição". É a dedicação constante na busca de uma maior ampliação de consciência através de um verdadeiro exercício de escuta conseguido através da disposição da prática do esforço pessoal.
Optar pelo amor significa "correr os riscos" necessários para se diferenciar da normose operante; é dizer não a um ambiente social que não satisfaz minhas necessidades mais profundas; é não mais me permitir "empurrar a vida com a barriga". É o eterno compromisso de me recusar a tolerar relacionamentos limitantes e castradores do meu verdadeiro Self.
Optar pelo amor é me permitir pelo corajoso questionamento de meu sistema de crenças.
Optar pelo amor é me permitir dar um salto qualitativo em busca do desconhecido - da minha essência divina, capaz de fazer ressurgir das cinzas minha independência e individualidade única. É me permitir passar por louco, não temendo mais a desaprovação social e familiar - estar livre dos ditames do tipo "você tem que", "você deve", resultantes de um comportamental social limitante.
Optar pelo amor significa um comprometimento profundo e fidedigno para com a "voz interior silenciosa". O verdadeiro amor não pode existir sem o compromisso e sem este, a vida e seus relacionamentos não têm qualidade.
Optar pelo amor é me permitir ao erro, uma vez que eu esteja disposto a usar este erro como uma espécie de trampolim para um estágio maior de consciência amorosa. É se permitir à verdadeira intimidade - abrir meu "intimus" para o "intimus" do outro. É assumir o compromisso do autoconfronto, da percepção e da mudança comportamental necessária.
Optar pelo amor é não assumir o papel de Deus, mas agir em conformidade com a imagem e semelhança da minha concepção pessoal de Deus. É ver Deus em mim, refletido no Deus do outro.
É expressar um sentimento de reverência no lugar do abuso.
Optar pelo amor é contrariar a minha "preguiça espiritual", minha tendência relutante contra novos paradigmas que possam ampliar a minha consciência e a minha responsabilidade frente à mesma.
É não mais me permitir ser indulgente com minhas próprias racionalizações que me forçam a continuar em minhas "zonas de conforto".
Optar pelo amor é estar consciente de mim mesmo enquanto me movo através da vida. Isso exige que eu preste atenção não só as minhas ações externas, mas também que eu esteja atento à minha realidade interna.
Optar pelo amor é viver e agir de maneira determinada, consciente e em simplicidade. É abrir mão de todos os condicionamentos que tornam a vida tão complicada. È questionar minha atual relação com aquilo que eu consumo, com o tipo de trabalho que exerço, com as pessoas com as quais me relaciono e a minha ligação e responsabilidade para com a natureza e o cosmos.
Optar pelo amor significa encarar a vida de frente, sem distrações desnecessárias e ver em cada sincronicidade do dia a dia uma manifestação da Presença Impessoal.
Optar pelo amor é a aceitação do compromisso da busca de um estilo de vida exteriormente simples, mas interiormente rico, de forma tal que possa ser uma livre expressão do meu verdadeiro eu.
Optar pelo amor é a capacidade de transferir quantidades cada vez maiores de energia e atenção antes dadas ao materialismo horizontal para o aspecto não-material e, assim, evoluir espiritualmente, culturalmente, em compaixão e em sentido de comunidade em unidade.
Optar pelo amor é optar pela eliminação do que é desnecessário; é optar pelo simples e enxergar através da simplicidade, o Espírito que preside todas as coisas.
Optar pelo amor é buscar pela religião "dentro de mim mesmo"; é buscar pela Graça capaz de trazer graça para tudo aquilo que já não tem mais graça.
Paz, serenidade e sobriedade a todos!
Um anônimo agradecido
Levando a Mensagem
Muitos de nós chegamos ao DASA totalmente derrotados e cansados de buscar respostas para o nosso terrível sofrimento interior, nos mais diversos segmentos da sociedade: medicina, psicologia, psiquiatria, religiões das mais diversas. Por ter tentado encontrar a resposta necessária e não ter conseguido obter nenhuma muitos de nós chegamos totalmente descrentes e sem esperanças de que algo pudesse nos libertar de tamanho sofrimento emocional imposto pela nossa dependência. Entramos na sala abatidos, desconfiados e humilhados pela tremenda surra imposta pela nossa dependência. Então começamos a ouvir os depoimentos dos membros em recuperação e nos deparamos pela primeira vez, com pessoas que realmente entendem do que estamos sentindo, não de uma maneira letrada, mas de uma maneira marcada na carne e na alma, ou se preferir, no espírito. São pessoas simples, falando uma linguagem simples e de fácil entendimento.
Lembro-me bem do sentimento de esperança que senti ao ouvir os primeiros depoimentos dos companheiros...senti que estava no local certo e que aquelas pessoas realmente haviam passado pelo que eu estava passando, e o melhor de tudo, é que era possível notar a recuperação destas pessoas. Percebi então que se eu me entregasse de corpo e alma na freqüência das reuniões e no estudo da literatura eu poderia também me recuperar.
Com o esforço aplicado na prática do Programa de Recuperação de 12 Passos e com a ajuda dos meus padrinhos, consegui sair do fundo de poço e obter um despertar espiritual. A alegria e a sensação de paz que nunca havia experimentado antes são indescritíveis. O resultado dessa melhora brusca foi o que originou, no meu caso, a necessidade para levar a mensagem para aqueles que estavam sofrendo e que não sabiam da existência de uma saída da dependência de amor e sexo, através do o Programa de DASA.
Comecei a trabalhar no sentido de divulgar e estruturar o DASA na região. Lembro-me de que no início temia muito o fato de alguma coisa sair errada e atrapalhar o crescimento de DASA. Essa preocupação me fez tomar uma postura de paternalismo, o que gerou a quebra da unidade com alguns companheiros e por sua vez entre os primeiros grupos de DASA naquela região.
Senti a necessidade de um boletim informativo, onde pudéssemos ter depoimentos de companheiros em recuperação, onde poderíamos relatar as dificuldades, sintomas e histórias da nossa recuperação, bem como do crescimento de DASA. Daí surgiu "A JORNADA". Outro fato que contribuiu bastante para o lançamento deste boletim informativo foi o fato de várias pessoas de outros estados onde não havia a existência de um grupo de DASA poderem manter contato com depoimentos de membros em recuperação. Eu pedia aos membros que escrevessem relatando suas experiências de recuperação, mesmo o interesse sempre tendo sido muito pequeno.
Hoje, analisando os fatos, cheguei à conclusão (esta é a minha opinião pessoal) de que este desinteresse pelo divulgação da nossa mensagem, da nossa experiência de recuperação, faz parte da nossa doença, do nosso padrão de anorexia.
Para terminar, deixo aqui uma matéria que recebi de um novato com quem me correspondia, trocando forças e esperanças. Ele demonstra bem a nossa chegada ao Programa, o que aqui encontramos e o preço a pagar pelo que nos foi dado de graça. Espero que ele sirva para despertar a tantos companheiros que ainda não perceberam a grande verdade: "É dando que se recebe".
"Porque razão fomos escolhidos"
Deus em Sua sabedoria infinita selecionou este grupo de homens e de mulheres para ser o depositário de Suas bem-aventuranças.
Ao escolhê-lo para ser membro deste milagre Ele não se dirigiu ao orgulhoso ou ao afortunado. Ele foi em busca do humilde, do enfermo, do desafortunado, do desacreditado, do doente.
Em tuas mãos trêmulas e fracas Eu confiei uma verdade que vai muito além da amizade. A ti foi dado o que foi negado aos mais cultos dos teus conhecidos.
Estas coisas não foram concedidas aos cientistas, aos estadistas ou aos religiosos e pastores, mas a ti.
Este dom deve ser usado desinteressadamente. Traz com ele uma grave responsabilidade:
Nenhum dos seus dias deve parecer-lhe demasiadamente longo. Não alegue que o seu tempo é demasiadamente curto. Nenhum caso deve ser encarado como demasiadamente doloroso. Nenhuma tarefa demasiadamente dura. Nenhum esforço demasiadamente grande.
Deve ser usado com tolerância porque não foi limitada a sua aplicação a nenhuma raça, sexo, credo religioso ou condição social. E o que deve ser muito importante: seja prudente sempre que o triunfo acompanhar os seus esforços. Não atribua a sua superioridade pessoal. Lembre-se que somente pode elevar-se em virtude de graça.
Se EU quisesse que homens cultos realizassem a missão que lhe foi confiada, ela poderia ser entregue aos físicos e cientistas. Se EU quisesse dá-Ias a homens eruditos, o mundo está repleto deles, e certamente com melhores aptidões que você para realizá-las e seriam mais eficientes que você.
Você foi escolhido porque foi desprezado pelo mundo.
Guarde sempre na lembrança aquele dia em que você entrou pela primeira vez nesta Irmandade, disposto a abraçar o seu Programa de vida e ajudar a outros que ainda sofrem.
Não esqueça do carinho que você recebeu, quando você só recebia mal-trato,
Da compreensão, quando você era incompreendido,
Do respeito, quando você já não era mais respeitado,
Do estímulo, quando ninguém mais acreditava em você,
Do amor, quando ninguém mais te amava...
E passe a dedicar essa mesma compreensão, esse mesmo respeito, esse mesmo carinho, esse mesmo estímulo, esse mesmo amor, àquele que necessita.
Um anônimo agradecido
Distanciamento
Olá companheiros, paz e bem a todos!
Gostaria de compartilhar com vocês, tudo o que estou conseguindo detectar em meu interior, durante este período dificílimo da minha recuperação em DASA. Antes de mais nada, gostaria de dizer a vocês que hoje tenho por experiência a conscientização do real significado da expressão "dependente de amor e de sexo".E sei muito bem o que é esse sentimento horrível que bate na boca do estômago, sobe para o peito e que "cozinha" a minha capacidade de raciocínio, deturpando a realidade dos meus sentimentos. Sei muito bem o que é a obsessão mental e física, que me tira por completo da minha realidade como se fosse uma droga. Por Deus, como desejo me livrar dessa loucura.
Pela primeira vez na minha vida, me encontro só, sem qualquer tipo de envolvimento emocional ou sexual com outra pessoa. Durante toda a minha vida (desde a infância) senti essa ansiedade constante e essa falta de sentido em meu interior, o qual preenchia ou se preferir "anestesiava" através da energia da sedução, ou de uma pratica sexual qualquer. Hoje também sei da importância e do significado do "DISTANCIAMENTO", ou "RETIRADA", do qual quero dividir com vocês.
Durante muitos anos da minha vida, vivi um relacionamento extremamente dependente. Através da participação em DASA entrei em contato com esta verdade amarga, a qual tentei negar durante um grande tempo até não conseguir mais e me sentir derrotado, onde acabei por desfazer esse relacionamento. Algumas frases da literatura de DASA entraram com tanta força e verdade em meu interior que não havia mais como viver em paz dentro deste relacionamento. Percebi que durante muito tempo, vivi alimentando promessas falsas e paralelamente, um comportamento sexual compulsivo. Vi que não estava "vivendo e deixando o outro viver", que não estava permitindo nem a mim e nem à minha companheira ter a liberdade para entrar em contato com as nossas limitações, dores, carências e outros sentimentos significativos que tanto contribuíram para a nossa dependência. Por mais que eu tentasse ignorar, não conseguia ficar sem ouvir aquela "voz interior" que me sussurrava que eu tinha que me separar para poder crescer e desenvolver uma nova maneira de vida. Depois de muita depressão, ao me sentir derrotado, joguei a toalha e me separei.
Durante muito tempo, me senti responsável pelo comportamento ou estado emocional da minha ex-companheira, o que colaborou em muito para que eu não falasse dos reais sentimentos que borbulhavam dentro de mim. Foi com muita dor que compreendi que "NÃO SOU RESPONSÁVEL PELO COMPORTAMENTO OU REAÇÕES EMOCIONAIS DE NINGUÉM A NÃO SER DE MIM MESMO". Foi só a partir daí que compreendi que cada um nasce sozinho, morre sozinho e que é responsável pela sua vida. Podemos compartilhar do crescimento, mas não crescer pelo outro.
As primeiras semanas forasm duras, até que consegui superar bem (acredito que devido ao fato de ter-me libertado daquela dor terrível e da depressão emocional e espiritual em que me encontrava). Com o passar do tempo, comecei a entrar em contato com a realidade que se apresentava: eu estava só! Comecei a viajar para fugir da minha realidade, mas isso não funcionou pois aonde eu ia sempre havia um momento em que eu ficava só comigo e caía na minha realidade. Experimentei uma série de compulsões, chegando a recair em alguns dos meus padrões dependentes, o que me levou a uma profunda crise de raiva contra mim mesmo, a qual só consegui superar após uma conversa franca e aberta com dois dos meus companheiros. Percebi também, que as minhas recaídas se deram após ter me encontrado com a minha ex-companheira. Eu recaía em primeiro lugar emocionalmente, e depois, sexualmente. Foi só aí que eu consegui entender a atitude de um membro antigo de DASA ao tomar a medida de se distanciar dos seus "objetos de obsessão". Resolvi seguir os mesmos passos, procurando as pessoas com quem mantinha relacionamentos doentios e deixando claro que não queria e não poderia mais manter contato com elas. Foi um momento muito difícil da minha vida, mas sentia que se não fizesse isso, não conseguiria nunca me recuperar. Adotei a postura de não querer saber nada a respeito da condição emocional dessas pessoas, não porque tivesse raiva ou mágoa, mas sim pelo fato de que qualquer tipo de informação poderia disparar os " meus botões emocionais doentios" que fatalmente me levariam a um contato a mais.
A partir daí, comecei o meu real processo de recuperação. Entrei então em síndrome de abstinência emocional e afetiva (já havia passado pela síndrome de abstinência sexual). Confesso a vocês que esta abstinência foi e está sendo muito mais dolorida do que a abstinência sexual. Quando se rompe um relacionamento, se rompe também com todo um sistema de vida, toda uma rotina, todo um círculo de amizades condicionadas ao relacionamento e eu não sabia o que fazer com a minha vida. Por vezes me vi enfrentando as horas, para ver se o dia terminava logo, tudo isso em meio a compulsões terríveis de situações emocionais ou sexuais. Passei a comer compulsivamente como uma forma de substituição, mas como já tinha conhecimento de que isso era uma fuga, ficou mais difícil de dar continuidade. Me sentia só, fora da irmandade e só, dentro da irmandade. Não encontrava ninguém que estivesse enfrentando a mesma situação que a minha. Podia ver uma série de relacionamentos doentios e o mesmo processo de negação pelo qual passei. Queria que as pessoas seguissem o mesmo caminho que eu, para não me sentir só e chegava até a sentir raiva ao ouvir frases do tipo: "Sei que estou num relacionamento dependente e que preciso me separar, mas no momento está bem assim e não vou mexer com isso". Foi aí que acordei que mais uma vez estava entrando nas garras da dependência. Quem tinha que fazer o meu caminho era eu mesmo e que ninguém precisava seguir o meu. Tinha que confiar em Deus e seguir em frente, sem a certeza do que encontraria pela frente.
Outro fato que me chamou a atenção para as verdades contidas nas experiências dos membros mais antigos, era a respeito dos "encontros ocasionais com nossos ex-amantes". Passei por duas experiências desse tipo, uma com minha ex-companheira e outra com a minha "ex-amante". Em ambas as situações fiquei totalmente fora do ar, perdendo a respiração, o domínio sobre os meus sentimentos, pensamentos e experimentando uma carga de ansiedade e de adrenalina fora do comum. Essa carga foi tão forte que fiquei numa ressaca emocional por quase dois dias. Isso veio a reforçar a minha necessidade de me distanciar desses relacionamentos, enquanto que o lado mais escuro do meu ser se debatia pela minha recusa em continuar a alimentar os velhos padrões de comportamento.
O que me chamou a atenção nesse período foi a diferença existente entre esses relacionamentos que eu vivia. O meu relacionamento dependente sexual era movido apenas pela compulsão sexual e não trazia complemento algum e nem a perspectiva de futuro. Já o meu relacionamento dependente afetivo foi o que mais momentos de tristeza e dúvidas me trouxe. Sentia falta deste relacionamento e, por vezes, ao me deparar com situações ou lugares de significado, ainda me pego com angústia e tristeza.
Outro aspecto desta fase pela qual estou passando é com relação a questão profissional. Cada dia que passa sinto mais e mais a necessidade de mudar o rumo da minha vida profissional. Hoje estou vivendo uma situação profissional dependente, onde não estou me realizando nem profissionalmente e muito menos financeiramente. No entanto, ainda tenho o medo de assumir uma postura e largar essa minha dependência. É novamente o medo do desconhecido... "Será que vai dar certo? Será que eu vou conseguir?". No entanto, tenho falado muito sobre isso com os meus companheiros e tenho pedido ao meu Poder Superior que me ilumine e me dê a força e a sabedoria necessárias para crescer.
Tudo isso, companheiros, vem se desenrolando em meio de muita confusão mental e emocional, muita compulsão sexual, muitos sintomas físicos, alguns deslizes (principalmente na masturbação), muita oração, momentos de raiva e outros de aceitação... ou seja, um sobe e desce emocional constante. Em alguns momentos tenho conseguido rir dos pensamentos e sentimentos que ocorrem em meu interior. Em outros, tenho sofrido e travado uma batalha imensa. No entanto, algo em meu interior me diz que estou no caminho certo, e que mais dia ou menos dia, poderei desfrutar das promessas que o Programa tem me passado. Não vejo a hora de tudo isto acabar pois eu mereço ser feliz.
Estou feliz por ver que o DASA está crescendo e que novos grupos estão surgindo em várias regiões do país e que já possui o seu espaço entre tantas Irmandades de 12 Passos. É muito bom poder ouvir as pessoas falando do DASA e ver que esta é uma Irmandade, ou melhor, um empreendimento espiritual cujo engenheiro é o maior de todos: Deus como cada um concebe a Deus!
Desejo a todos os meus companheiros o mesmo que desejo para mim, que são 24 horas de paz, serenidade e sobriedade sexual!
Um anônimo agradecido
Restaurando relacionamentos
Vou iniciar este depoimento ressaltando a importância do aspecto familiar na minha recuperação dentro de DASA. Já sou um membro de DASA há algumas 24 horas e neste tempo tive muitas crises: sexuais, profissionais, amorosas, sociais, e naturalmente familiares.
Acho que quase todos os meus problemas vieram de relações conturbadas com meus familiares. Meu pai foi um alcoólatra e isso detonou minha relação com ele. Tive muitos problemas na minha vida em decorrência deste relacionamento conturbado. Sofria muito com as bebedeiras dele, temia muito suas crises, e sempre tinha a tendência de defender minha mãe de tudo isso também.
Durante estes anos guardei esses ressentimentos. Tinha horas que sentia tanta raiva que poderia matá-lo. Mas, lá no fundo sentia sua falta. O tempo também se encarregou de me transformar em uma pessoa rancorosa e defensiva. Isso durou muito tempo, muitas feridas foram abertas e reabertas. Foram muitas brigas, algumas sérias, outras nem tanto, mas sempre cada um com o intuito de machucar o outro. Muitas acusações de ambos os lados e nunca nos entendíamos.
Então chegou a oportunidade de eu entrar nos grupos anônimos levado por uma crise depressiva. Lá entendi algumas coisas de meu pai, mas ainda não conseguia compreender muita coisa e logicamente não conseguia perdoá-lo. Nosso relacionamento continuava difícil, porém com alguma melhora. Até que cheguei em DASA. No DASA iniciei uma série de conscientizações, algumas dolorosas, que me ajudaram imensamente na compreensão do mundo que meu pai vivia. Comecei a vê-lo com outros olhos, com os olhos da compreensão. Entendi, talvez até um pouco tarde, que ele estava somente se defendendo, que não era mal, nem que queria magoar todos por puro prazer, mas sim por medo, igualzinho a mim. Então comecei a ver que quanto mais destilava meu veneno contra ele mais ele se defendia. Era como jogar uma bolinha numa parede, quanto mais forte jogamos, mais forte ela volta.
Graças á DEUS e ao meu padrinho, consegui compreender isso a tempo. Iniciei um trabalho de compreensão de todas as atitudes loucas dele, e comecei a entendê-lo muitíssimo melhor. Foi uma graça para mim e para minha recuperação esse entendimento, pois só assim pude sinceramente tratá-lo com mais delicadeza e sinceridade, o que não significava eximi-lo de sua responsabilidade..
Graças ao Programa, a DEUS e aos meus companheiros pude enfrentar meus reais problemas, e os enfrentando tive a percepção dos problemas que meu pai teve sozinho. Meu pai morreu há três meses. Talvez nãotenha feito tudo que era preciso, mas fiz alguma coisa, e isso é que me manteve bem durante sua doença e morte. Tive um imenso carinho por ele durante seus últimos dias, acho que isso também o deixou muito feliz.
As saudades são grandes, mas não posso fazer mais nada. O que posso fazer agora é amar os que ficaram por aqui - isso é o que importa - e chorar quando as lágrimas vierem. Uma coisa tenho certeza: se não fossem os grupos de anônimos e principalmente o DASA, e alguns companheiros, eu não teria tido estes momentos de carinho e amor que tive. Agora terei que trabalhar também em outros aspectos, mas isso que me foi oferecido já valeu a pena.
De um filho grato
Libertação para Esperança
- O que você acha ? ele perguntou.
- Acho que estive procurando por uma resposta durante toda minha vida - respondi. E agora, acho que eu encontrei.
Ebby Tinha acabado de me contar sua história de dependência de sexo e relacionamento e havia me identificado com tudo que ele havia dito. Mas sai de lá com um sentimento de total rebelião. Eu não poderia encarar mais uma dependência. Eu estava sóbria no Alcoólicos Anônimos (AA) por aproximadamente quatro anos e nos Comedores Compulsivos Anônimos (CCA) havia mais tempo do que isto, com dois anos de abstinência. Não era justo, Deus estava pedindo demais para mim, eu não poderia faze-lo e não o faria.
Mas a porta para a honestidade que tinha sido aberta não poderia ser fechada novamente. Não podia me lembrar dos detalhes das histórias de Ebby. Não queria lembrar, mas também não poderia modificar os conhecimentos dentro de mim, pois o que ele era eu também o era.
Minha solitária e compulsiva necessidade para os abraços de meus amantes, a procura por mais e mais sexo, isto era uma verdadeira adicção. Esta consciência estava agora totalmente clara. As duas semanas seguintes passaram para mim num pânico crescente - queria beber, queria morrer - queria qualquer coisa, exceto a necessidade de começar de novo do primeiro passo por uma nova adicção, mas eu já estava firmemente dentro daquele passo, consciente da minha impotência perante o desejo, incapaz de parar, a minha vida totalmente fora de controle por causa dele. Tudo o que era necessário era que eu abrisse a porta um pouquinho mais, com boa vontade, e um Poder Superior a mim mesmo tornaria possível aquilo que eu não poderia fazer sozinha.
A rendição não veio fácil para mim, mas ela também não veio fácil para minha adicção para a comida e para o álcool. Eu havia usado a comida para preencher a solidão e para me confortar, desde os meus 13 anos. No momento que eu pude comprar álcool, (quatro anos mais tarde),já estava cheia de ódio por mim mesma e com uma crença de que o mundo era culpado por ser hostil e desamoroso demais para que eu lidasse com ele.
Eu fazia dieta e sonhava em ser magra como se a magreza de repente fosse me fazer graciosa, confiante e bonita. Ainda assim comia, mesmo enquanto sonhava em ser magra - só mais uma, aí eu paro. Assim, eu alimentava o problema, mesmo que a comida aliviasse a dor que sentia. Quase na primeira vez que tive a chance de beber, me embriaguei, fiquei fora a noite inteira e dormi com vários homens e adorei. De alguma maneira, parecia que aquela pessoa que repentinamente era o centro das atenções e que podia levar qualquer um para cama, era o meu verdadeiro EU.
Eu sabia que realmente nunca havia me encaixado, naquela família "legal", com irmãos atléticos e pais que não bebiam, ou que não bagunçavam, que participavam de jantares da igreja e de férias familiares. O meu lugar era ali, nos bares escuros rodeada de tentação e de homens. Olhando para o passado na minha sobriedade atual, me parece que minha família era normal e amorosa. Porque então me sentia tão desamada e tão estranhamente deslocada? Talvez não exista uma resposta simples. Talvez eu tenha sido uma infeliz combinação genética, mas estava fora de questão que eu não era diferente dos meus irmãos, era simplesmente um fato.
Era óbvio desde o começo da minha adolescência que não podia encarar nenhum problema ou dor na vida, sem algum tipo de droga, e que eu não podia ser feliz sem algo que me fizesse feliz. Apesar de uma vida familiar que parecia muito normal, lá estavam os padrões que se entrelaçaram com a minha adicção. Um padrão era um tipo de desafio marginal contra fazer a coisa certa. Ninguém da minha família parecia pecar, eles não fumavam e nem bebiam. Todos s iam a igreja, não falavam palavrão e meu pai nem mesmo levantava a sua voz. Dentro de mim, acabei me sentido terrivelmente culpada por qualquer pequena violação da moral e cresci odiando "os bonzinhos da igreja", com quem eu fingia parecer.
Claro que a diferença entre os meus sentimentos e o que me parecia ser aceitável eram tão grande, que aprendi a negar os meus sentimentos e a procurar desculpas para que não tivesse que me rotular como pessoa má: eu xinguei por causa do que ele disse, eu bebi por causa do que ele fez, eu dormi com cem homens por causa do que eles não me deram. Eu acabei tão acostumada a negar os meus sentimentos e a culpar os outros pelo meu comportamento, que realmente não sabia o que a raiva e o medo eram para mim. Não conseguia ver nenhuma maneira de mudar minha vida. Sentimentos sexuais normais, também eram inaceitáveis, já que ninguém mencionava sexo a não ser no contexto da imoralidade. Havia pouca expressão de sexualidade ou de interesse sexual em minha família, de forma que sentimentos normais pareciam terríveis para mim. Já que não podia sequer mencionar sobre sexo muito menos lidar com ele, rapidamente ele se tornou uma obsessão pra mim. Antes mesmo que eu tivesse idade para ir à escola, já havia criado fantasias sexuais e praticava a masturbação, encontrando no prazer que me davam, uma libertação de todos os sentimentos que não conseguia rotular e que não sabia expressar. Eu precisava expressar meus sentimentos. Esse padrão de retirada do contato humano e concentração solitária na libertação sexual - masturbando-me várias vezes durante toda noite até chegar ao clímax - tornou-se uma parte crescente da minha adicção ativa.
Outro padrão na minha vida veio nos modelos de amores disponíveis para mim. Da minha mãe eu tive um maternalismo afetuoso e do meu pai uma aprovação intelectual orientada para o sucesso. De alguma maneira eu parecia não conseguir me integrar a essas duas qualidades, de maneira que separei o intelectual do sexual emocional. Durante toda minha vida ou eu seduzia as pessoas com meu intelecto ou as seduzia com meu corpo. Eu parecia nunca saber o que era uma real intimidade emocional. Embora eu fosse honesta demais para roubar, eu era tão emocionalmente desonesta que não podia admitir nem para mim mesma o que realmente sentia. Não era de se admirar que fosse tão grande a dor pelas necessidades que me pareciam nunca serem satisfeitas e os padrões de comportamento que só aumentavam minha culpa e vergonha, sem satisfazer essas necessidades, se traduziram numa busca desesperada por liberdade.
Encontrei minha pílula mágica, auto-medicada para solidão e necessidades, na comida e mais tarde no álcool e nas drogas. Quando ficava muito gorda mudava para o álcool e quando ficava bêbada demais, voltava para a comida, e abaixo de tudo isso estava a vida dupla e secreta que vivia na esfera sexual. Antes de completar vinte anos de idade, já havia dormido com mais de cem homens, tido doenças venéreas, três tentativas de suicídio, havia sido enviada pela polícia e pelos meus pais para um psiquiatria e tido um bebê do qual desisti para a adoção.
Era o tempo para a minha cura marital, mas infelizmente a minha necessidade insáciavel de liberdade sexual já era grande demais. Muitos outros sentimentos e problemas estavam encontrando uma válvula de escape através do desejo sexual. O meu marido e eu tínhamos que fazer sexo todos os dias, mas nunca era suficiente. Eu não ficava feliz e satisfeita, e tinha que me masturbar durante várias vezes ao dia. Tentando me libertar da depressão que sentia, bebia mais e procurava por amantes. Quando a excitação e intriga tomaram conta da minha vida a depressão aumentou. Eu era uma montanha russa de medo e de luxúria, mas a emoção das aventuras secretas e dos novos amantes eram de alguma maneira satisfatórias e eu não queria parar. Às vezes, depois de algum episódio degradante, como por exemplo, fazer sexo com alguém num canto escuro de algum restaurante, eu ficava envergonhada e me decidia a mudar. Aí então voltava a engordar para me tornar feia e indesejável. Então, movida pela necessidade, eu emagrecia e começava novamente o ciclo de sedução. Seduzindo amigos, maridos de amigas, os jovens alunos do colégio para o qual o meu marido dava aula, enfim, para qualquer um. Inevitavelmente me divorciei e também inevitavelmente o ciclo da sedução continuou, só que agora de uma forma mais aberta.
Mais uma vez, cheia de vergonha, tentei encontrar respeitabilidade casando-me. Eu escolhia alguém que conhecia num bar e usava o casamento como desculpa pelo fato de estar bêbada e por ser gorda, porque ele me tratava tão mal e não me amava e para encontrar sexo em outro lugar, já que não podia encontrá-lo em casa. Os três padrões de adicção progrediam e pioravam. Eu bebia para relaxar, de forma que eu não comesse e quando eu comia acabava vomitando para não engordar. Eu tentava ficar magra para poder obter mais homens e mais sexo, e reafirmar para mim mesma que não teria que ficar sozinha. Sofria apagamentos e profundas depressões. Tive tentativas de suicídio e violentas ressacas, ficando gorda e doente. Contrai doenças venéreas.
Quando estava num padrão de hiper alimentação entrava em relacionamentos masoquistas e dependentes, e quando estava de dieta e magra ficava bem sexy, corria de bar em bar e de cama em cama. Inibições relaxadas pelo torpor e bebendo para esquecer, então acordando com ainda mais para arrepender-me. Mesmo assim, nesses anos de insana progressão da minha adicção, consegui trabalhar como profissional em educação - um pilar da moralidade para a classe média. Não era de surpreender que eu bebesse para esquecer. Sempre nas bordas da consciência estava a sensação incômoda de que algo estava errado, que a minha obsessão sexual não se dava apenas pelo meu mal casamento ou pelos tempos liberais em que vivia. Eu deixava atrás de mim uma trilha de amizades quebradas e abandonadas; me mudava constantemente. Parei de tentar de fazer amigos já que eu era sempre nova na área ou estava prestes a partir, e ninguém me conhecia suficientemente bem para perceber que o isolamento imposto escondia um vazio muito grande e uma falta de habilidade para amar ou mesmo para gostar.
Fazia o meu papel com muita habilidade, a grande sedutora, a mulher que não precisa de ninguém e nunca deixei ninguém se aproximar o suficientemente para perceber a impostora que eu era. Nesta altura, eu podia controlar a minha compulsão apenas com ajuda de regras: nunca seduza amigos, pessoas com quem você trabalha ou alunos; mas minhas regras estavam sendo quebradas com uma freqüência cada vez maior e estava ficando assustada. Resolvi parar de me masturbar sentindo que as horas que passava na cama com revistas pornográficas eram um tipo de doença, mas quebrei essa decisão em poucas horas. Comecei a andar com uma arma e a pensar em suicídio para terminar com toda dor. Como fui parar nos Comedores Compulsivos Anônimos (CCA) e depois nos Alcoólicos Anônimos (AA) é uma outra história, mas basta dizer que apenas fique sóbria quando parecia que a única outra alternativa era usar a arma.
A síndrome de abstinência foi terrível, não apenas por que eu estava longe da comida e do álcool, mas também porque ficando longe dos bares me mantinha afastada de contato sexual que preenchia aquela compulsão. Eu tive um surto psicótico e fui parar num hospital psiquiátrico como consequência da síndrome de abstinência.
Como a rendição era simplesmente uma necessidade, encontrei três padrinhos no AA e todas as noites freqüentava as reuniões, e então comecei a recuperação. Fiquei sóbria mas não podia ficar sozinha. Encontrei um parceiro sexual três semanas após deixar o hospital, com isso minha dor diminuiu e consegui finalmente ficar sóbria. Como qualquer outra pessoa que fica sóbria no A.A. mantendo-se ativa em outra adicção meu progresso foi lento e eu não tinha a libertação da dor que outros pareciam ter.
No meu primeiro inventário consegui racionalizar que minhas aventuras sexuais eram causadas pelas bebidas e portanto não precisavam de um exame mais cuidadoso. Então continuei nelas, não em bares, mas nas reuniões de AA. Havia muitos homens disponíveis no AA e me fazia disponível para eles.
Novamente, tentei a cura pelo casamento, e novamente não pude ser fiel. Mais uma vez não pude conviver com a culpa e decepção, e mais uma vez me divorciei e voltei a caçada interminável atrás de contentamento mudando-me sempre depois de poucas semanas, mudando de emprego, de amigos e de amantes. Novamente estabeleci regras e as quebrei. Cheia de auto-desapontamento decidi que precisava me acalmar. Considerando o tempo da minha sobriedade o meu comportamento era tão bizarro que não podia mais racionalizá-lo: múltiplos amantes, casos com homens casados e "13º Passo" com membros do AA..
Escolhi um novo amante, mas ele logo quis terminar o relacionamento. A esta altura tinha me comprometido comigo mesma a não voltar para a minha velha maneira promíscua, e estava totalmente amarrada a esse novo amante, partindo para a síndrome de abstinência. Foi quando estava nessa terrível retirada forçada, querendo beber, querendo comprar uma arma para me matar que conheci Ebby numa reunião de AA.. Esse encontro casual provavelmente salvou minha vida. Eu não queira ouvir falar a respeito da falta de esperança da minha adicção, pois agora tinha apenas duas alternativas: morrer ou tentar. Em pânico e desesperada ainda queria escapar, mas o tempo estava passando e me rendi um dia por um certo instante, e este foi o começo.
Não foi fácil, mas, revelou-se ser simples. A retirada da masturbação foi muito difícil. Correr funcionava melhor do que banhos frios, especialmente se eu cantasse os 12 Passos enquanto corria. Comecei um novo inventário moral sem racionalizações ou desculpas (meu sexto inventário moral). Depois de alguns deslizes na masturbação superei minha autoconsciência agonizante e li cada palavra do meu inventário para um padre. Estava tudo escrito neste inventário. Toda dor e o modo como eu a usava como desculpa estava lá no meu inventário. Minhas traições aos amigos, minha autopiedade e a solidão juntamente com o doloroso conhecimento de como eu havia criado estas condições também. Minha raiva contra Deus, meu medo da honestidade e a minha revolta contra este novo caminho que eu tinha que seguir. O egocentrismo que havia dominado a minha vida. Coloquei todos eles no meu inventário e muito mais. Vivenciei os próximos passos, escrevi cartas de adeus para antigos amantes, fiz reparações da melhor maneira possível para aqueles a quem havia machucado. E aí começou a maior aventura de todas.
Para a minha surpresa a dor de toda a minha vida pareceu evaporar-se. Me senti como se tivesse acabado de nascer. Como vim a explorar um novo mundo de relacionamentos no qual eu tinha um senso de dignidade e a capacidade de gostar e manter compromisso aprendi que os velhos padrões de adicção poderiam escorregar de volta para dentro da minha vida de maneira sutis. Aprendi a importância do contato com outros que tivessem a mesma adicção e a necessidade absoluta de rigorosa e contínua honestidade.
Aconteceram muitas coisas na minha vida de sobriedade para compartilhá-las todas aqui. Sinto que experimentei tanto, e ainda assim tão pouco. Muitas das lições foram humilhantes. Não tenho atravessado sempre a dor de viver e de lidar com os problemas da vida com coragem ou aceitação, mas tenho passado por eles sexualmente sóbria. Aprendi a viver em parceria com Deus, a praticar a humildade na Irmandade de DASA, a abraçar a dignidade da pessoa e o valor da honestidade e da integridade em relacionamentos humanos. Aprendi a amar a solidão e a valorizar o companheirismo. Aprendi a ficar atenta aos sutis padrões de adicção que podem escorregar para dentro da minha vida tão facilmente. Passei a me sentir parte da Irmandade, parte da humanidade, parte do mundo e parte de Deus. Minha experiência é que eu estava condenada a uma busca sem fim.Eu não sabia porque tinha que continuar vivendo uma vida tão dolorosa. Um membro de DASA me passou a mensagem e eu fui libertada para a esperança e ainda estou aqui vivendo um dia de cada vez.
Como faço para me libertar da Luxúria Romântica
Quando alcancei a sobriedade me comprometi comigo mesmo a não sair com mulheres durante, pelo menos, um ano. Todos e cada um dos dias de minha vida havia vivido à espera de que apareceria a mulher de meus sonhos, uma espécie de fada madrinha que transformaria de forma mágica minha realidade. Os sentimentos de inferioridade, a dor, a solidão e a angústia desapareceriam. O mundo do qual tanto queria fugir se transformaria em um paraíso. Tudo seria diferente a partir de então. Nem preciso dizer que este compromisso era um das causas das coisas ruins pelas quais passei durante a síndrome de abstinência. Três meses e meio de verdadeiro inferno e de dor emocional, e até mesmo física.
Eu não podia conceber a vida sem sexo nem amor romântico (seria interessante averiguar até que ponto o amor romântico não faz parte da exaltação ao sexo, por não entrar na terra da dependência emocional...). As mulheres, ou melhor, a imagem que minha luxúria criava delas, eram meu Poder Superior. Saber que não sairia com mulheres foi o suficiente para não me entregar às fantasias de possíveis parceiras... de forma imediata.
Eu contava os meses que faltavam para que o ano se completasse e eu pudesse ter uma "relação sadia" com uma mulher, afim de preencher o grande vazio que em mim se fazia notar. Teoricamente, "coloquei isto nas mãos de Deus"; no entanto, não deixava de olhar o calendário.
Com o desejo sexual eu não me atrevia a brincar. Para qualquer imagem ou "gatilho" eu respondia imediatamente com uma oração. Eu sabia que se deixasse que essa imagem se hospedasse em minha mente, mais cedo ou mais tarde partiria para ação e perderia a sobriedade.
Porém em outras áreas as coisas não estavam tão claras. Uma era a da luxúria, o apetite desordenado, da beleza. A "necessidade" de ingerir "tragos visuais" como no caso do álcool foi substituído pela beleza de alguma mulher. Eu percebi que quanto mais eu olhava, mais queria olhar, mais me obcecava com ela, e mais me fechava, envaidecido, em meu interior. A presença de Deus desaparecia e com ela a serenidade e o equilíbrio emocional. Minha vida voltava a ficar ingovernável. Pelo menos até que eu deixasse aquela "droga" novamente e me reconciliasse com Deus.
Descobri que eu necessitava de algo a mais que um "contato de emergência" de última hora com Deus. Como meus olhos iam muito mais do que o desejado, comecei a rezar antes de que a mulher se aproximasse. As coisas iam muito melhor, mas ainda não era suficiente. Além de rezar para ela, saía rezando rua abaixo para outras pessoas, companheiros do programa, colegas de trabalho, família, viajantes - indo com atitude de dar em vez de receber, isto foi o que mais me ajudou a superar este problema.
Então se manifestou claramente a luxúria de amor romântico, de desejar que uma mulher preenchesse aquele vazio interior que há em mim e que só Deus pode preencher. O que foi então que eu vi? Vi que no mais profundo do meu coração nunca havia renunciado à dependência de relacionamento e que nunca a havia colocado nas mãos de Deus. Sabia, num nível intelectual, que eu ignorava, e que ignoro, aquilo que é bom para mim, que as minhas idéias mais brilhantes são as responsáveis por eu estar aqui.
Eu fiz o que me disseram: "Ponha seus relacionamentos aos cuidados de Deus; deixe de buscar, coloque-os nas mãos de Deus e quando você estiver preparado, se Deus considerar que é benéfico para você, colocará a alguém em sua estrada. Deixe de lutar, renda-se". E eu fiz exatamente deste modo. Da boca para fora. Porém, nunca havia realmente me rendido a ter um relacionamento que um dia se converter-se em minha noiva e finalmente em minha esposa. Eu seguia empenhado de que eu sabia exatamente o que necessitava. Continuei determinado a dizer a Deus o que Ele tinha que fazer por mim.
Para mim, a hora da verdade chegou quando numa das reuniões que assistia - de um programa de doze passos - minha atenção estava se concentrando, pouco a pouco, numa mulher. Comecei a me obcecar. Ao rezar para ela eu me ajudava, muitas vezes, porém, em outras ocasiões, ao me concentrar nela, sua imagem não desaparecia e as fantasias românticas voltavam. Admitindo minha impotência tinha as mesmas conseqüências... umas vezes me saia muito bem,... outras, não tão bem. A mesma coisa com as orações do tipo "Senhor. Que eu encontre em ti o que busco nela", etc. etc. O caso é que a luxúria de amor romântico deslizava em minha mente de uma forma muitíssimo mais discreta e sutil que a interrupção violenta e ameaçadora da luxúria sexual.
Teria que estar mais alerta, mais atento. Mas isso não era tudo. Faltava algo mais, mas, o que era? Faltava a renúncia profunda e incondicional de um Sexto Passo. O Sexto Passo nos diz que temos que estar disposto à que Deus nos elimine nossos defeitos de caráter. Estar disposto significa que aceitamos viver sem eles, que podemos conceber a vida sem orgulho, sem autopiedade, sem egocentrismo, etc. Renunciamos na raiz de nosso ser, em nosso coração, em nossa alma. Muito mais difícil do que pareça a princípio! No Sexto Passo nossa tarefa se "limita" a renunciar. No sétimo a lhe pedir, sem o exigir; isso é o que significa humildemente. A Deus corresponde fazer o resto como e quando Ele decidir.
Este era o problema. Necessitava renunciar, toda vez que aparecesse uma tentação romântica, para aquela mulher, não só hoje (eu sou um perito em manter cartas do baralho e em esperar que a mulher mude), mas para sempre. Teria que dizer uma e outra vez: "eu aceito viver sem aquela mulher o resto de minha vida". Sentir a dor que sentia, por mais despedaçado que estivesse por dentro. E imediatamente pedir a Deus que se fizesse presente e que me preenchesse. A verdadeira Conexão.
Hoje sinto de verdade uma necessidade da presença de Deus e de aprofundar de alguma maneira esse contato com Ele. E FOI ENTÃO QUANDO DESCOBRI QUE NECESSIDADE TÃO GRANDE TINHA DE AMAR E QUE A SOLUÇÃO ESTAVA EM PRATICAR ATOS DE AMOR.... teria que dar a alguém... rezar para alguém, fazer algo pelos demais, lhes oferecer minha atenção e meu afeto (ajudar o novo produz resultados surpreendentes).
Para vencer o amor romântico, aquela insidiosa forma de auto-adoração e de falsificação da realidade da outra pessoa, teria que renunciar ao meu "bezerro de ouro", pedir a Deus que se fizesse presente em minha alma, e dar, AMAR. Só me tornando um canal pelo qual o amor de Deus fosse manifestado para os demais é que eu poderia me libertar das fantasias que aprisionam o meu ego. Porque não há nenhum antídoto melhor à frente do amor romântico que o verdadeiro amor. Diante da sua presença aquele desaparece. Precisamente porque eles são incompatíveis. PORQUE SE EXISTE ALGO OPOSTO AO AMOR ROMÂNTICO É O VERDADEIRO AMOR.
Essay, dezembro de 1996
Recaída e retomada da Recuperação
Completei 90 dias de abstinência. É muito bom alcançar esta marca. Consegui esta façanha mais seriamente agora do que antes da minha recaída, na primavera passada. Partilhando minha experiência desde a recaída, a força de vontade na minha pequena recuperação e minha esperança no futuro, desejo que a minha história possa ajudar outro dependente em recuperação.
Entrei em recuperação da dependência de sexo em 1994. Meu programa incluía de 3 a 5 reuniões por semana, prestar serviço para a irmandade de DASA, terapia de grupo semanal, serviços de culto, e oração diárias. Eu tinha um padrinho com quem eu falava regularmente, escrevia no meu diário e comecei a ligar freqüentemente para pessoas de outro programa.
Em princípio de 1996 determinei 16 meses de abstinência junto à minha original linha de conduta.
Tudo parecia estar indo muito bem. Me orgulhava do trabalho que estava desempenhando e simultaneamente estava atingindo a conseqüência dos dias de sobriedade. Porém, a minha recaída me mostra agora, que eu não estava trabalhando o programa de recuperação com força suficiente.
Fazendo uma retrospectiva, reparo que a minha recaída começou muito antes que eu tivesse alguns deslizes em algumas linhas de conduta na primavera passada. Minha recaída recomeçou em meados de 1995. Naquele tempo eu permitia ser levado pelas circunstâncias, fora do meu caminho de recuperação, durante um pequeno período. Primeiro, minha mulher e eu estávamos tendo problemas no casamento. Deixei esses novos problemas seguirem sem rumo. Estava muito feliz por que a minha mulher decidiu ficar comigo quando entrei na primeira recuperação. Rapidamente consegui sua compreensão para os nossos problemas, concedidos e admitidos, se avolumarem.
Segundo, como reação à tensão no casamento, paramos de tomar juntos o café da manhã. Na realidade, parei de tomar o café da manhã. Mais tarde, essa decisão, contribuiu para o crescimento da minha depressão de baixa-estima. Terceiro, eu estava tentando dirigir um desordenado número de outras situações estressantes: usar novas tarefas de trabalho; acostumar-me à nova dentadura; um colégio para meu filho freqüentar; lamentando o custo deste colégio; trabalhando com um consultor para direcionar a minha crescente insatisfação no trabalho; e fazendo o quarto passo da minha dependência de sexo.
Ao mesmo tempo que eu permitia que estas circunstâncias fossem construídas uma sobres as outras, minha dependência - que está sempre procurando uma oportunidade para "ajudar-me a sair'- descobriu o sexo no computador. Eu não tinha nenhuma experiência anterior nesta forma de agir. Inocentemente numa noite eu entrei nas salas de conversa, enquanto usava um dos serviços de acesso comercial da internet. Em semanas, eu voltei à ativa, em duas formas anteriores de comportamento - sexo por telefone e masturbação.
Rapidamente comecei a me isolar em casa e no trabalho. Mentia para minha mulher o porquê ficava até tão tarde da noite no computador. Estava gastando o dinheiro da família em chamadas telefônicas e contas de computador. Usava o cartão de crédito de telefone para fazer ligações de longa distância. Também tinha recaído no meu procedimento primário - sexo com prostitutas.
Agradeço à bondade de alguns companheiros que praticavam os passos por me ajudarem. Um companheiro foi delicado o suficiente ao mencionar minha série de "deslizes" - os quais eram na realidade - a recaída. Essa realidade finalmente chamou a minha atenção. Então, cada membro do meu grupo de terapia me persuadiu a fazer uma internação. Meu Poder Superior me deu força de vontade e meios para eu ir tão rápido quanto possível. Estive internado por 90 dias. Durante esse período fui privilegiado com imensos presentes.
Fiquei abstinente de toda a minha linha de conduta da ativa, a qual agora incluía sexo pelo computador. Adquiri uma compreensão mais clara do porquê chegava a abusar de sexo como um jovem e como hoje eu sou um dependente de sexo. Eu não sou o primeiro dependente de sexo da família. Minha espiritualidade tornou-se mais profunda. Identifiquei caminhos saudáveis para ir ao encontro das necessidades às quais antes eu usava o sexo para satisfazer. Meu senso de amor próprio aflorou. Novas idéias passaram na minha cabeça, enquanto ouvia as antigas. Adquiri um profundo entendimento de quanto a minha doença é perigosa.
Mas estes ganhos vieram com um alto preço. Minha mulher e eu estamos separados; pedi a separação e então pude me concentrar na minha recuperação. Não podia ver minha filha sozinha. Meu casamento não pôde sobreviver. Fizemos um empréstimo, para a minha internação. Minha mulher ficou cheia de raiva e simplesmente não acreditou em mim. Meu filho sente muita raiva de mim. Minha filha pensa que eu a abandonei e quer um novo pai. Apesar destes custos, estou otimista quanto ao futuro. Agora eu vejo o copo estando meio cheio em vez de meio vazio. Sei que o meu Poder Superior está sempre comigo e que eu não preciso trilhar o caminho da minha recuperação, sozinho. Meu programa de recuperação está fortalecido e mais robusto que nunca. Aprendi muito com a minha experiência de recaída e estou muito grato por outra chance na vida.
Anônimo
Terminando Relacionamentos
Companheiros, Serenidade à todos!
Gostaria de compartilhar com todos os momentos pelos quais tenho atravessado ultimamente. Muitas coisas têm acontecido - algumas boas e outras aparentemente nem tanto. Digo aparentemente, porque tenho constatado depois de certo tempo de programação que aqueles momentos que pareciam ser o "fim do mundo em sofrimento", com o tempo, se mostraram pontos de apoio para o crescimento de uma nova pessoa.
Há cerca de três meses, num momento de muita dor, rompi com o meu relacionamento, meu noivado. Foi extremamente difícil chegar a esta decisão. Muita coisa passou pela minha cabeça a ponto de eu pensar que estava a prestes a enlouquecer. Este processo de rompimento iniciou-se há quase um ano e meio, quando tive a oportunidade de traduzir uma apostila do DASA, escrita em castelhano (diga-se de passagem, com muitos erros de interpretação e de escrita, mas que muito me ajudaram!). Uma coisa é ler um material e outra muito distinta é traduzi-lo. Parece que o espirito fica muita mais ligado ao texto.
Devido a esse fato a absorção do espírito da apostila foi de imediato muito forte. Percebi que o meu relacionamento, pelo menos da minha parte, era terrivelmente dependente, tanto na área sexual, como na afetiva. Percebi que escondia a minha anorexia emocional, afetiva e sexual, por detrás do meu relacionamento, que me protegia de uma verdadeira intimidade. O impacto emocional que me causou este trabalho foi muito forte. Comecei a ter muita ansiedade, pensamentos suicidas, diarréias, tremores, uma tristeza imensa, um medo terrível de ficar sem a minha companheira, enfim, todos os sintomas que a síndrome de abstinência pode apresentar.
Eu tentava a todo custo amar a minha companheira, respeitá-la, ser fiel, ser presente, ser verdadeiro, franco, mas por mais que eu me esforçasse, lá no meu íntimo, eu sentia que não era algo verdadeiro e espontâneo e que o resultado era sempre o vazio, seguido daquela "voz que sussurrava bem baixinho" a loucura de continuar insistindo naquele relacionamento. Eu procurava evitar falar do assunto, comentar sobre o meu relacionamento, sobre casamento e chegava a evitar as pessoas que me questionavam esse assunto, chegando por vezes ser até hostil com essas pessoas. Eu tentava mentir, só que mentia somente para minha mente, mas não para a minha alma.
Sofria terrivelmente quando as pessoas me perguntavam sobre quando sairia o casamento, ou quando a minha companheira tocava no assunto, ou fazia planos e sonhos para tanto. Eu bem que queria sentir o mesmo e até me esforçava para isso, mas não era verdadeiro! Eu me sentia responsável por ela, pelas suas emoções, pelos seus sonhos, pela sua condição emocional. Hoje vejo que esse tipo de comportamento não passava do meu egocentrismo, como se eu fosse o centro da vida dela, como se ela não pudesse viver sem a minha pessoa. Que loucura! Hoje vejo que, na verdade, eu estava única e exclusivamente preocupado com a minha reputação. Como a verdade dói!
Fiquei durante um ano e pouco tentando salvar o nosso relacionamento dentro de DASA, procurando ser o mais aberto possível com ela. No final do ano, na passagem de ano, eu estava numa síndrome terrível e tentando a todo custo não demonstrar isso para as pessoas. Eu estava com todos os sintomas torturantes do fundo de poço da dependência afetiva. Lembro-me do esforço que foi a passagem de ano com a família dela, sem deixar que eles percebessem o que estava acontecendo no meu interior.
O fato que determinou o meu colapso emocional, foi quando fomos ver um apartamento para comprar. Ela estava toda empolgada pois era a oportunidade do céu... lembro-me bem dos olhos dela, da felicidade e do receio dela acreditando em mais uma das minhas "promessas". Eu queria, mas não podia. Sabia que não poderia fazer aquilo com ela e comigo mesmo. Tentei lutar com todas as forças contra a minha consciência, mas fui derrotado. Uma força muito maior à minha vontade me vencera. Foi terrível e pensei que não pudesse agüentar.
Comecei a ter sensações horríveis: tremedeiras, diarréias, falta de apetite, desânimo, falta de energia, medo,pânico, idéias de suicídio, pensamentos de que ela fosse se suicidar, medo do que as pessoas iriam me dizer, medo de perder nossos amigos em comum, medo de perdê-la para sempre, medo de ficar só, medo de não ter mais o cheiro dela, o corpo dela, a companhia dela, a pele dela... medo, medo, medo! Uma pressão no peito, muita angústia, uma pressão cerebral, que parecia fazer o meu cérebro derreter, incapacidade de controlar os meus pensamentos, incapacidade total de me concentrar, e tristeza, muita tristeza. No entanto, eu continuava tentando superar bravamente o que dizia o meu interior: "Você tem que romper!" Eu não conseguia aceitar esse fato e me revoltava contra Deus, questionando porque tinha que ser dessa maneira, porque não podíamos continuar juntos e ser felizes. Por que eu não podia ficar livre daquele terrível medo de assumir o nosso relacionamento, de assumir a nossa vida? Não conseguia encontrar respostas.
Procurei achar respostas através de livros, através das pessoas. Ouvi vários tipos de conselhos que me mostravam com clareza o quanto as pessoas estavam doentes e vivendo relacionamentos terrivelmente dependentes, sem querer olhar para a própria realidade. Via que as pessoas que falavam para que nós continuássemos eram justamente aqueles que estavam presas a relacionamentos inadequados, sem partilha emocional, espiritual e, até em alguns casos, sem partilha sexual. Era como se a vida deles me mostrasse a loucura que seria se nos casássemos, e o nosso futuro estava bem ali nos meus olhos. Cheguei a ter crises de choro muito fortes que só consegui superar graças à ajuda de companheiros de DASA que permaneceram ao meu lado.
Os momentos que mais me traziam dor eram após os nossos contatos íntimos, quando ela dormia nos meus braços e eu ficava olhando para ela e sentindo o medo de enfrentar o que estava acontecendo em meu interior. Só eu e Deus sabemos o quanto que isso me trazia de dor. Eu realmente não queria machucá-la, queria protegê-la da dor e sem perceber, estava bloqueando o crescimento dela. Aos poucos isso foi ficando mais claro para mim, graças à leitura do livro "Co-dependência Nunca Mais". Percebi que o meu comportamento era de resgate e de manipulação, que vivíamos uma co-dependência muito grande e que realmente teríamos que nos separar, se quiséssemos algum dia, livres das garras da dependência, viver relacionamentos verdadeiros. Vi o quanto estávamos vivendo a "negação", a mesma negação que hoje vejo tão freqüente nas pessoas. Por medo do abandono e da solidão eu estava prolongando um relacionamento dependente. Já não dava mais para fugir da verdade.
Por vezes senti a vontade de que ela me deixasse, pois isso tornaria as coisas muito mais fáceis para mim. No entanto, eu sabia que essa atitude teria que ser minha: eu teria que assumir a responsabilidade pelos meus sentimentos e pelas minhas atitudes. Vi também que eu era responsável somente pelas minhas reações emocionais e que cabia a ela trabalhar com esse fato, e definitivamente eu deveria deixar de fazer o papel do sapo disfarçado de príncipe encantado, à procura de salvar a sua princesa. Esse foi sempre o meu papel: salvá-la das situações, afim de receber a recompensa através da satisfação dos meus instintos.
Num momento de desespero fui à procura de um padre para poder desabafar o que eu estava sentindo. Quando lhe contei o que se passava comigo ele me questionou e me censurou pelo fato de mantermos relações sexuais, e que aquilo estava errado. Saí dali com uma raiva incrível, percebi que eu teria que parar de procurar respostas através dos outros e olhar o que o meu interior me pedia. Era momento de me encarar de frente: só eu e Deus! Pedi muita ajuda ao meu Poder Superior para que me mostrasse a verdade, por mais dura que ela fosse. A resposta veio no dia seguinte. Era um domingo cinzento e eu havia acordado muito mal. Fui para uma reunião de uma outra irmandade e logo que cheguei, mal havia sentado, uma companheira começou a dar o seu depoimento, e fiquei muito mal! Parecia que ela falava dentro da minha alma. Ela reproduziu em apenas dez minutos todos os meus treze anos de relacionamento. Ela tinha as mesmas características da minha noiva e o seu ex-marido as mesmas características doentias enraizadas na minha pessoa. Ela me mostrou bem a loucura dos resultados. Sua última frase: "Se eu não o deixasse, nem eu e nem ele nos recuperaríamos. Por mais que eu o amasse, tive que deixá-lo!"
Aquela era a voz de Deus, era a resposta as minhas orações. Cabia a mim aceitar o que eu não podia mais modificar, ter a coragem para agir e a sabedoria para saber o momento exato. Três dias depois senti o momento exato, entreguei-me e a ela também, aos cuidados de Deus. Pedi para que Ele fizesse o que fosse melhor para nós dois, que nos protegesse, que nos orientasse e que nos desse forças para superar aquele momento. Ela teve uma crise nervosa muito forte; fiquei preocupado com ela, mas sentia no meu interior que seria melhor ela chorar ali e naquele momento, para não ter que chorar o resto da vida. Eu sabia que eu era impotente para poder controlar as emoções dela e que eu teria que deixar Deus agir. Foi o momento mais difícil de toda a minha vida: ver uma pessoa maravilhosa escapar de mim, devido a minha doença. Não vou mais esquecer aquele momento.
Apesar de toda a dor eu sentia que estava fazendo o melhor para nós dois, uma certeza que vinha lá do fundo, trazendo uma esperança recuperação.
Hoje, passados três meses, tenho visto os frutos desta ação. Vejo o quanto que ela está crescendo, colocando coisas que eu nunca imaginava que ela pudesse colocar, coisas que chegaram até a me machucar e que me fizeram vê-la como uma mulher e não como a minha garotinha. Tenho visto e sentido que estou mais maduro, mais aberto e tendo sentimentos que antes eu não tinha, inclusive, por ela. Tenho a vontade de vê-la bem, crescendo, se realizando e se libertando de mim. Sinto o mesmo ao meu respeito. Nossas vidas foram entregues a Deus. Cabe a Ele nos mostrar a Sua vontade e cabe a nós o livre arbítrio de fazer essa vontade acontecer. Tenho a certeza de que estamos no caminho certo. Tenho certeza de que o que hoje estou sentindo é uma manifestação de amor.
No momento estou sentindo muita dor, pois é como se houvesse perdido alguém, como se alguém tivesse falecido. É uma dor muito forte no peito, parece que ele vai estourar. Sei que essa dor é necessária e que ela é o ingrediente básico do meu crescimento, do meu amor pelas pessoas, do meu aprendizado de respeito pelas pessoas e seus sentimentos. Hoje, por experiência, tenho a certeza de que o amor é algo que liberta e que toda libertação é precedida de muita dependência carregada de muita dor.
Estamos no caminho certo. Deixo o meu futuro aos cuidados do meu Deus, o meu passado sempre como uma lembrança construtiva, e o meu presente, junto aos grandes amigos que tenho encontrado dentro desta Irmandade do DASA. Jamais esquecerei o meu passado e o que vocês tem feito por mim. À todos o meu muito obrigado, do mais fundo do meu coração. Tenham certeza de que hoje eu sinto o que estou compartilhando com vocês!
Infinitas 24 horas de paz, serenidade, sobriedade, crescimento mental, espiritual e emocional.
Um companheiro agradecido
Primeiros Passos
Olá companheiros, sou um DASA em recuperação. Cheguei a entrar em contato com as Irmandade Anônimas, após um período de forte depressão, que quase me levou a loucura. Antes disso, já havia procurado ajuda em vários segmentos da sociedade, a procura de solução para o terrível sentimento de culpa, nojo, raiva que sentia de mim mesmo, devido a conscientização dos meu as atos passados.
Desde a minha infância, sempre fui uma pessoa muito medrosa e extremamente complexada. Sexualmente, saí torto desde a infância. Acredito que a falta de um modelo masculino a seguir (devido a ausência do meu pai, cujo alcoolismo roubava toda a sua atenção da sua família) e a superproteção e autoritarismo inconsciente por parte de minha mãe, possam ter ajudado neste aspecto da minha doença.
Por volta dos meus 9 ou 10 anos de idade descobri a masturbação, um mecanismo gerado para liberar a carga dos meus medos e ansiedades. Isto passou a ser um dos meus grandes vícios de comportamento, que perdurou até a minha chegada em DASA. Comecei logo cedo, a desviar dinheiro do bolso do meu pai (enquanto dormia alcoolizado) para poder comprar as minhas revistas pornográficas. Tratava de deixá-las bem escondidas, assim como faz um alcoólatra com suas garrafas pelos cantos da casa. Isso gerava o medo que alguém pudesse encontrá-las (o que sempre acontecia e sempre através da minha mãe). Sua reação era muito enérgica. Isso gerava um conflito: como poderia estar errado algo que para todos os garotos era normal?
Ao ingressar na fase ginasial, é que comecei a ter as minhas primeiras experiências de ordem sexual. Sempre foi muito difícil para mim; apesar da extrema vontade, um medo sobre natural com relação ao fracasso sempre me acompanhava. Tive várias experiências dentro da área da homossexualidade, que acabavam me gerando medo, vergonha e auto-repugnância. Sempre quis ser um cara normal, capaz de sair "com todas as mulheres possíveis e imagináveis" mas, devido ao meu tremendo complexo de inferioridade aliado ao medo do fracasso e o medo da descoberta das minhas práticas homossexuais, nunca consegui o esperado.
Para piorar um pouco mais as coisas, descobri o jogo por volta dos meus 1 5 anos de idade. Outra sensacional fuga para a minha realidade familiar e interior; mais um lugar para dividir os "bons trocados" da caixa registradora do armazém do meu pai. O incrível é que eu não conseguia controlar estes meus atos, apesar de sentir que eu estava agindo errado e sentindo logo em seguida um profundo remorso. Graças ao Poder Superior, esta fase com o jogo, não durou por muito tempo. Foi logo substituído por um relacionamento doentio que durou cerca de 10 anos.
Mesmo me relacionando com uma garota, eu precisava me auto-afirmar, e continuava mantendo relações por fora, o que causava muito sofrimento para a minha garota. Minha obsessão sexual tornou-se tão intensa, que cheguei a tentar abusar sexualmente de uma criança. Talvez esse tenha sido o ato que mais me torturou na fase da depressão e do sentimento de culpa.
Chegou a fase do exército, e mais uma vez o medo me acompanhou. Comecei a ter o medo de que as pessoas poderiam vir a ficar sabendo da minha realidade, a qual jurava a mim mesmo que ninguém ficaria sabendo. Achava que carregaria aquilo comigo até o túmulo. Mas a realidade foi bem outra.
Entrei numa profunda depressão, que me levava a pensamentos suicidas constantes. Perdi a capacidade de raciocinar, de me controlar, entrei em parafuso. Procurei ajuda de religiões, profissionais, tudo quanto é tipo de "chá", que se possa imaginar... pensei que fosse enlouquecer e que não fosse superar as idéias de suicídio. Foi então que conheci o N/A. Ali consegui "vomitar ", todo o meu passado que tanto me afligia. Tomei conhecimento dos 12 Passos de Recuperação e conheci o meu padrinho, que muito me ajudou e a quem sou muito grato.
Sentia que estava salvo, que havia encontrado um lugar onde as pessoas me entenderiam e me ajudariam a me livrar do meu passado e fazer uma escolha sadia de vida. Eu tinha o sincero desejo de me recuperar no que diz respeito ao meu comportamento sexual. Procurei adquirir toda a literatura que me fosse possível. Passei a freqüentar duas reuniões por dia, sem contar as reuniões fechadas com o meu padrinho. Ali expunha com toda a honestidade e sem medo, os fatos que me traziam culpa, medo, remorso, vergonha e outras sintomas torturantes. Admiti que era impotente perante uma escolha sadia de sexualidade, admiti que minha conduta havia se tornado ingovernável. Vim a acreditar que ali eu conseguiria me recuperar. Decidi então entregar o meu sincero desejo, minha vontade de me recuperar aos cuidados do meu Poder Superior, que naquele instante, foi o meu padrinho, alguém que já havia passado pelos mesmos problemas que eu e que havia conseguido se recuperar e viver bem com o seu passado.
Durante quase um mês, escrevi sobre a minha vida minuciosamente e destemidamente; foram momentos angustiantes e dolorosos, mas que eu sabia que eram de vital importância para a minha recuperação. O que eu via, exteriorizava para o meu padrinho. Era reconfortante dividir com alguém e ouvir que ele também havia passado pelas situações que até então, eu imaginava que eram exclusivamente minhas. Lembro-me bem, como dávamos risadas daquilo que por um fio não me levou a cometer uma loucura. Rogava a Deus, (que eu tentava imaginar existir) que me livrasse daqueles padrões de comportamento anteriores e que me desse a condição de ser uma pessoa normal e feliz. Fiz uma relação de todas as pessoas que havia prejudicado emocional, sexual, espiritual e financeiramente.
Procurei a cada uma dessas pessoas e contei-lhes a respeito da minha doença, do que eu estava passando, de como eu havia lhes prejudicado e do porque de estar ali contando tudo aquilo para eles. Graças ao meu Deus, fui muito bem aceito por todos, o que ajudou a ganhar a confiança perdida por muitos deles.
Percebi que o resultado dessa prática, fez com que automaticamente, eu tomasse consciência dos acontecimentos emocionais momentâneos, onde, admitia prontamente os meus erros. Comecei a tentar me relacionar com Deus através da Oração e da meditação, mesmo de forma vacilante. Foi então, que tive o meu despertar espiritual, algo inexplicável, algo muito pessoal, uma experiência que transformou minha vida de forma marcante, me jogando de um extremo ao outro. Uma sensação de paz que nunca havia experimentado antes... percebi que não poderia mudar o passado, mas que através dos passos aplicados de 24 em 24 horas, eu poderia deixar de ser aquela pessoa indesejada por mim. Era só admitir que tinha problemas e sexuais e me abster de alimentá-los por apenas...24 horas.
Os três primeiros meses foram muito difíceis, pensava até que não fosse conseguir. Graças ao Poder Superior, a ajuda dos companheiros da Irmandade paralela (na época não havia o DASA no Brasil), do meu padrinho e da minha boa vontade e mente aberta, estou sóbrio a boas 24 horas de uma série de padrões auto-diagnosticados.
Apesar da ajuda desta Irmandade, sentia muita falta de um tratamento mais direto na área da sexualidade, onde eu pudesse repartir as minhas experiências de recuperação com meus companheiros e ouvir a deles e encontrar pessoas que tivessem o mesmo objetivo que eu. Foi então que através de uma companheira, tomei conhecimento do DASA e do seu programa de recuperação. Esta é uma experiência que futuramente, se Deus me permitir, irei dividir com vocês meus companheiros.
Agradeço do mais fundo da minha alma, a todos aqueles que acreditaram em mim e que me ajudaram a ser, aquele que hoje sou!
Um membro agradecido
Minha Esperança
Sou uma dependente de amor e sexo e falar isso agora é tranquilo. Mas quando descobri esse grupo de doze passos fiquei meio alarmada... que nome "pesado"! Ao adquirir a literatura e me inteirar do programa, entretanto, tirei de minha cabeça o preconceito e me descobri nessa situação. Já pertencia a outro grupo de doze passos há algumas 24 horas e foi como ir mais a fundo nos problemas que tinha descoberto no meu quarto passo anterior.
Juntas, eu e mais 6 companheiras desse outro grupo, tentamos iniciar um grupo de DASA na nossa cidade, nos reunindo na casa de uma delas, já que era uma cidade pequena e a questão do anonimato era complicada. Estudávamos os passos, líamos A JORNADA, mantivemos contato com uma companheira de SP e foi quase um ano assim. Muitas descobertas, muito choro, e muita esperança também.
Para mim ficava sempre a promessa do segundo passo: "um PS possa nos devolver à sanidade". Mas precisava participar de uma reunião onde houvesse pessoas com alguma recuperação, pois é mesmo a terapia do espelho que funciona e é muito importante me enxergar no outro.
Mudi-me de cidade no início de 2000 e perdi a oportunidade do convívio com aquelas companheiras, mas sempre com o pensamento em DASA, em conseguir estar em uma reunião. Até que em novembro passadso fui ao encontro nacional em Vinhedo, e isso foi muito forte. Uma companheira lá comentou comigo: é seu primeiro contato com DASA e você nem chorou? Posso não ter chorado por fora, mas quanto chorei "por dentro"!!!
Vi muito de mim em cada depoimento, e o que me marcou mais foi uma reunião sobre abuso emocional.
Pude colocar para fora coisas da minha adolescência que marcaram o início dos meus problemas de relacionamento, penso eu. Deu para relembrar minha falta de aceitação com o relacionamento dos meus pais (uma coisa da minha cabeça, pois meus pais são casados há 41 anos e vivem bem, dentro do "conceito de amor" deles. Eu é que não concordava com a "atitude de submissão" de minha mãe. Isso é uma classificação minha, pois para ela é normal, não incomoda) e perceber que daí nasceu dentro de mim uma anorexia total e uma "fala secreta": nunca homem nenhum vai "mandar em mim".
Dessa forma me fechei para os relacionamentos, desviei minha vida toda para os estudos, fui uma aluna exemplar, me formei aos 22 anos, comecei a trabalhar logo a seguir. Cedo consegui minha independência financeira, mas fui dando cabeçadas no que diz respeito ao convívio social, pois saí de uma cidade do interior e fui morar na capital, sendo impossível viver sozinha. Comecei a aprender a fazer amizades, mas isso levou tempo. O primeiro namorado foi aos 28 anos (tenho ainda vergonha de falar isso), mas é minha realidade. E foi um tumulto só.
No fundo eu tenho uma carência muito grande, e transformo todos os namorados naquele "príncipe" que vai me levar para ser feliz para sempre... Entro de cabeça, sufoco, mas ao mesmo tempo tem uma parte de mim que não quer se envolver. E vivo uma relação onde "eu mando". Sempre atraí homens "problemáticos", "anoréxicos", aqueles que precisam de alguém prá "colocá-los para frente".
Daí para frente tive mais 3 relacionamentos que acho que posso falar que foram namoros (e cíclicos, de 4 em 4 anos) e entre eles alguns "rolos", daqueles bem enrolados mesmo. Tenho as duas faces da doença: compulsão por sexo (aquela coisa de pele, da atração física falar mais alto e me colocar em situações insanas) e anorexia. Quando termino um relacionamento me fecho totalmente - às vezes por anos - a qualquer aproximação. Só tive consciência disso depois de conhecer DASA.
Os resultados de ter participado desse encontro têm sido muito intensos. Tomei muitas atitudes, como terminar de vez o meu relacionamento atual, rasgar lembranças, fazer minha lista de comportamentos de adicção e pedir ao Poder Superior que me ajude a me abster deles, me propor ao celibato um dia de cada vez por um tempo. Não está sendo fácil, tudo isso mexeu muito comigo. Tenho ainda dificuldades em me perdoar e às vezes me acho a pior pessoa do mundo, me encho de culpa e sofro. Mas tenho recebido muitas respostas na literatura e nos depoimentos dos companheiros pelo computador, pois ainda não tem um grupo onde moro.
Mas continuo de olho na promessa do segundo passo: preciso de sanidade, de conseguir relacionamentos saudáveis em todos os sentidos, não só com um namorado, mas com todas as pessoas com quem convivo.
DASA hoje representa para mim essa esperança. Sei que FUNCIONA, se eu fizer a minha parte.
Anônima - Minas Gerais
Celibato
Olá companheiros, sou uma dependente de amor e aexo em recuperação!
Existe um macete na minha profissão de quando a gente tem que começar um texto e não sabe por onde começar, pode-se ir até o dicionário e procurar o significado da palavra; e pela primeira vez eu fui ver o que significava celibato. Fiquei muito assustada com o que vi, por que não era nada do que esperava. Eu esperava algo muito ligado à vida dos padres e das freiras, aquela coisa de obrigação e tudo mais. E o que vi é que a palavra celibatário é a condição da pessoa "solteira"... só isso! Era tão simples que fiquei até perdida... mas como? Não tem mais nada? Para mim, tinha que ter mais alguma coisa. Fiz isso esta semana, após ter passado a minha experiência de celibato. Tenho a sensação de que a minha experiência de celibato foi muito isso, ou seja, foi muito simples! Não tentei complicar, eu vivi a minha vida.
Também peguei o livro Isto não é Amor, do Patrick Carnes, para dar uma olhada nos conselhos sobre o celibato e anotei alguns que achei que tinha a ver comigo. E de certa forma os pratiquei nestes quase três meses de celibato. Encarei como uma parada de tempo e não um fim. Foi exatamente o que fiz. Não queria um celibato eterno, até porque o mesmo tinha tempo para terminar (sabia que uma coisa que se prolongaria seria perigoso para mim porque tenho anorexia também). Procurei apoio do grupo, da madrinha e do conselheiro e aí foi onde me apoiei. Minha madrinha foi fundamental no meu processo de celibato. Esperei pelos problemas que iam surgir (tive vários tipos de problemas). Compreendi que a resistência é típica... houve momentos que foram muito difíceis e houve momentos que foram tão agradáveis que não queria sair nunca mais. Preparei-me para os novos sentimentos; milhões de sentimentos surgiram, milhões de coisas apareceram porque tirei tudo durante a minha recuperação e fui tirando aos pouquinhos aquelas coisas que me "drogavam" de alguma forma. Durante o celibato tive uma enorme gama de novos sentimentos. Não eram exatamente novos, mas acho que a percepção dos sentimentos que tive era uma coisa que não tinha antes.
Planejei atividades que ampliassem minha experiência de celibato e isso foi a base do meu celibato. Já tinha tentado fazer o celibato antes (de um mês) e acho que não foi um celibato bem sucedido porque não tinha nada, não tinha programação nenhuma. Fui ver no DASA (como é sugerido aqui) que existe um trabalho por baixo disso, e por isso que acho que depois valeu a pena.
Tive um relacionamento no começo deste ano que terminou com um período de recaída (tive três relacionamentos misturados com muita confusão emocional). O terceiro relacionamento que me fez terminar o namoro e que foi um relacionamento especialmente doloroso para mim deu-me a tônica básica da história para me mostrar o primeiro passo, ou seja, que eu era impotente perante a minha dependência de amor e de sexo e que eu tinha perdido o domínio da minha vida. Fazer o que fiz com ele quando eu saí na primeira noite, não conseguir dizer não, não conseguir fazer nada do que tinha me proposto a fazer ao sair de casa, não foi doloroso, mas foi até um alívio de ter a percepção desse primeiro passo. Foi um relacionamento muito difícil, muito rápido, mas muito esclarecedor para mim porque eu já estava dentro de uma sala de DASA e vinha compartilhando seriamente com a minha madrinha, conseguindo deixar o relacionamento. Só consegui terminar o relacionamento porque entrei em celibato. Foi muito engraçado porque entrei em celibato numa quinta-feira e numa quarta-feira fui numa reunião de DASA e vi que o celibato não batia para mim como uma coisa de recuperação, porque desde o primeiro grupo anônimo que conheci a minha programação tinha que ser diária. Se alguém me dissesse que teria que ficar sem beber por um ano eu não conseguiria porque aquela condição de ficar "uma semana sem", ou "um mês sem" era tão longe para mim que não conseguiria.
Também foi muito importante para mim, aprender dentro de um grupo que "tenho direito de mudar de opinião". E mudei de opinião no dia seguinte e foi a melhor coisa que fiz, porque encontrei com a minha madrinha e ela me sugeriu que entrasse em celibato por uma semana e aquilo me deu muita esperança. Se ela me dissesse para ficar durante quinze dias eu não agüentaria. E entrei em celibato e colocamos alguns tópicos para esse começo, que seria, por exemplo, que esse cara com quem me relacionava não poderia ir até a minha casa porque morava só com a minha irmã e eu correria muitos riscos. Ele não poderia me beijar, o contato físico permitido seria só o abraço, sem masturbação ou relacionamento sexual de tipo algum.
Isso me deu um certo desespero, uma sensação e uma vontade de querer me recuperar rápido, mas tinha que ser um dia de cada vez. Mas por vezes não queria que fosse um dia de cada vez. Aí a minha madrinha me falou uma frase que ainda hoje me lembro, que era "Onde estou agora é o melhor lugar para começar!" e foi justamente o que pensei naquele dia. Comecei a fazer a minha primeira semana de celibato, prolonguei para mais uma semana e basicamente nessas duas primeiras semanas fiquei trabalhando com a minha madrinha. Começamos com uma idéia de luto. Eu teria que fazer um luto do último relacionamento, que não seria nem esse, seria do namorado. E logo no começo percebi que teria que fazer isso de todos os meus relacionamentos passados, porque nunca terminei nenhum deles: eu sempre começava outro, sempre um atrás do outro. No meio do celibato a gente foi descobrir que esse cara foi o primeiro relacionamento do qual eu abdiquei. Eu mesma terminei e quis sentir essa perda. Isso foi muito difícil, levei quase dois meses para conseguir. Depois de uma semana de celibato fui conversar com ele para finalizar e foi muito horrível, porque ele não me respeitou nem validou os meus sentimentos. Eu sentia tudo porque estava em celibato e estava muito limpa, trabalhando todos os meus sentimentos e falando para ele que eu não queria mais. Abri o meu anonimato, porque até então ele não sabia (hoje é inconcebível para mim, uma pessoa que esteja do meu lado e que não saiba da minha condição). No final da conversa, ele muito sedutor (esse e um dos meus piores padrões, eu sou muito sedutora também!), não parou de piscar o olho para mim. A sedução vazava por todo lado e eu me sentia muito mal com aquilo. Na noite anterior eu havia estado com ele e ele me deu um abraço e o contato físico foi muito estranho porque depois de uma semana sem contato físico eu passei muito mal durante a noite. Eu estava sozinha em casa e tive muito enjôo, cheguei a levantar durante a noite para vomitar. Desde que entrei em DASA já passei mal duas vezes à noite por ter mexido muito no meu emocional, mas isso faz parte da recuperação.
Logo após ter trabalhado o luto comecei a trabalhar o confronto e isso foi logo após o meu celibato, fazendo uma carta de confronto para o meu pai e para a minha mãe. As duas cartas tinham o mesmo teor, que era basicamente responder a quatro perguntas: O que o abuso fez com a minha vida? Como me senti? Como repercutiu na minha vida atual? Como quero que seja a nossa relação agora? Escrevi uma carta muito grande e que considero muito pesada para a minha mãe (eu não mandei ainda). Tudo foi muito estudado e tudo isso foi muito legal para mim! Não fui fazendo de qualquer maneira, do tipo vou escrever e pronto! Minha madrinha me deu um texto para ler e fui com as idéias básicas de que eu não iria acusar ninguém, não iria apontar o dedo para ninguém, massim eu iria dizer como eu havia me sentido. E escrevi, escrevi tudo! Quem foi a minha abusadora foi a minha mãe e foi muito bom ter escrito essa carta para ela. Também me foi sugerido que eu não mandasse a carta logo... a minha vontade sempre foi essa, mas depois de certo tempo a reli, acrescentei coisas, escrevi no computador e ainda não mostrei para a minha madrinha (tenho muito trabalho ainda por fazer). Não sei qual vai ser o resultado dessa carta e tenho que estar preparada para o que der e vier, e não sei se já estou preparada, mas um dia estarei.
Depois de completar um mês de celibato, decidi fazer mais um mês de celibato. Queria refazer um teste de HIV que havia feito no final do ano passado, para ter certeza do resultado, e achei que tinha que fazer pelo menos três meses de celibato. Não que seja obrigado determinar esse período, mas sim porque que eu e minha madrinha achamos conveniente esse período mínimo. Achei que era um tempo suficiente. Nesse período de celibato tive momentos muito felizes e tive momentos muito dolorosos, mas a maioria foram muito bons. Eu tinha a sensação básica de que o celibato me faria me sentir feliz, que eu poderia viver sozinha e feliz, sem ter que precisar de uma outra pessoa para me fazer feliz. Isso era a coisa mais importante que tinha que descobrir, ou seja que posso ser feliz sozinha, que posso estar com outra pessoa por opção, mas não preciso dela para ser feliz, como antes eu achava. Nesse trabalho, uma das coisas mais fantásticas que o celibato me deu foi me conhecer, me mostrando alguns padrões que estavam encobertos, coisas tão sutis... como um deles, que para mim é o mais pesado, que é a sedução. A sedução em mim era tão forte que não dava para eu perceber. Foi a minha madrinha que me alertou e que me mostrou o quanto foi importante eu parar com tudo para que no meio do celibato eu pudesse perceber a minha sedução. Eu tenho uma vida um pouco diferente do normal das pessoas porque não saio à noite e a minha vida social tem a ver com o esporte, um esporte que pratico que é o alpinismo. Teve uma coisa que a gente descobriu: é que as pessoa normais quando querem sair ligam para outra pessoa e convidam para sair, para ir a um barzinho, para ir a um cinema, mas comigo não : o convite não era para estar lá- e sim para sair apenas; e fui perceber isso só nessa fase do celibato. Então comecei a ficar um pouco desesperada porque vi que eu já estava em celibato mas que aquela sensação continuava. Eu costumava seduzir qualquer pessoa... eu costumo dizer que posso seduzir até uma vendedora de uma loja quando entro para ver uma camisa. Eu usava muito isso! Então fiquei uma semana sem aceitar qualquer convite para sair com qualquer homem. Para poder perceber isso, comecei a anotar quantas pessoas me ligavam. Comecei a ver que eu tinha um padrão muito forte de amigos solitários... no final da semana, eu já não estava mais agüentando de solidão, e cheguei a uma conclusão de que eu não queria deixar de ter amigos homens, mas que eu queria resolver o problema de alguma forma.
Outra coisa que me aconteceu é que eu sabia o que tinha que fazer, mas naquela época, em 1995, não havia muitos exemplos de pessoas em recuperação para seguir aqui no Brasil, mas mesmo assim, uma preguiça maior não me deixou sentar e escrever para os Estados Unidos pedindo por ajuda para que me mostrassem o caminho com companheiros de DASA há mais tempo em recuperação. Então fui fazendo a programação meio que sozinha, de alguma forma, e tudo isso era compartilhando com a minha madrinha diariamente durante uma hora.
Nesse período também fui percebendo que nos relacionamentos com os meus amigos passava o tempo todo respondendo perguntas sobre a minha pessoa e que eu nunca fazia perguntas sobre a intimidade deles. Só respondia perguntas sobre a minha vida e isso não é um padrão de recuperação para mim. Eu precisava também fazer perguntas e me interessar pelos outros. Nesse meio tempo apareceu uma pessoa que hà muito tempo já estava querendo sair comigo e que eu não tinha interesse nenhum nele. Ele não me chamava atenção porque ele não tinha nada de "adicto" e isso não me despertava. Foi engraçado que quem me chamou atenção à respeito dele foi a minha madrinha, que quando o conheceu me falou que ele era legal e que era completamente diferente dos outros. Ele era muito ele e muito atencioso. Ele começou a me conquistar quando me ligou e me disse que gostaria de me conhecer melhor, mas que eu não permitia. Aos pouquinhos a gente foi se encontrando, eu no celibato, abri o meu anonimato. Teve um dia que perguntei para ele o que ele queria comigo, qual seria o interesse dele para comigo. Se eu não estivesse em recuperação eu jamais faria uma coisa dessas, principalmente porque eu tinha muito medo da resposta. Enfim, abri o meu anonimato e ele me aceitou com todos os defeitos que eu tinha e eu achava que não eram poucos. Pela primeira vez entrei num relacionamento sem saber a data do começo, sem ter aquela rigidez de ter que saber as datas de cor. Eu sabia mais ou menos porque acho que isso é uma coisa muito espiritual, porque acho que já queria namorar com ele muito antes do nosso primeiro contato. Inclusive, no meio do celibato, tive um namoro espiritual com uma outra pessoa que foi horrível, mas, eu e minha madrinha chegamos à conclusão de que a gente estava se namorando sem ter nada, porque eu estava em celibato. Com essa segunda pessoa acho que tive um namoro espiritual e foi com ele que saí do celibato antes mesmo do tempo dele terminar. Nós chegamos à conclusão juntos, conversamos antes, a gente já tinha tido muito contato físico de abraço, uma coisa muito segura porque ele não me cobrava nada, e ele estava me respeitando muito. Quando a gente se beijou pela primeira vez ele me perguntou qual seria a conseqüência disso, como seria isso para mim, como que eu ficaria. Ele foi muito atencioso. Eu conversei com ele e chegamos juntos à conclusão de que eu poderia fazer isso, que eu poderia sair do celibato (e quem decidiu fui eu, não estava sendo obrigada por ninguém) e foi muito bom para mim. Isso foi fundamental.
Aos pouquinhos, ele fez a minha volta à minha vida sexual da qual eu tinha muito medo. Sempre conversando muito, falando muito sobre a minha condição de sobrevivente de abuso sexual, trabalhando muito com a minha madrinha. Junto com isso veio a solução para esses meus amigos que na verdade eram gatilhos para mim. Eu cheguei à conclusão de que preciso muito de amigos, mas que se esses amigos só podem sair comigo sozinha, então não preciso desses amigos. Então comecei a falar do meu namorado que para mim é um critério de sobriedade - falar que tenho um namorado. Quando me convidavam para jantar eu aceitava e falava que o meu namorado iria junto, então eles falavam que não queriam e aí dcidi que esse tipo de amizade eu não queria. E isso está funcionando, muitos já sumiram, não ligam, não aparecem, não ficam mais com aquela estória de "Ah! Eu quero te ver...". Hoje eu quero que ele faça parte das minhas amizades e isso me dá uma segurança muito grande.
Hoje tenho a certeza de que todos esses sentimentos, todos esses pensamentos, dessas coisas que tenho percebido nos meus relacionamentos, vieram devido ao celibato, dessa condição de ter ficado um tempo sem ninguém. Comecei a trabalhar uma série de coisas internas minhas, como por exemplo de que sempre falei que queria um relacionamento mas que não queria um marido, que não queria me casar.
Comecei a trabalhar isso porque isso me soava muito estranho e não poderia ser normal. Sempre achei que um namoro era uma pré-condição para um dia você dividir uma vida. E comecei a trabalhar isso, a ver porque que não quero uma outra pessoa, comecei a perceber que minha vida sempre foi muito solitária, que sempre quis ser muito independente, que tive uma vida completamente anoréxica, que nunca soube dividir, nunca soube ter intimidade. E hoje cheguei à conclusão de que as pessoas não passam à toa em nossas vidas, elas têm uma função, e tive a sensação nítida de que a pessoa que me levou ao celibato era uma pessoa que eu admirava muito e que eu queria muito construir um relacionamento com ela, mas que a minha adicção não deixou. Tenho certeza de que foi Deus que me mandou até orque ela também é adicta, para eu ter a certeza de que eu teria que trabalhar o celibato para que hoje o relacionamento começasse certo. Foi Deus que me mandou essa pessoa com quem eu estou hoje e que com certeza, perfeito ele não é, mas que para a minha adicção ele é perfeito porque não tem anorexia com ele. Ele é muito presente, ele não esquece de nada do que falei, ele é super ligado na família, ele me leva sempre para estar perto da família dele, perto dos pais e dos irmãos, não me dá espaço para não ter intimidade. E acho que o mais importante disso tudo é o colo que ele me dá, o conforto emocional que ele me dá.
Tenho chorado muito nesse tempo que estou com ele, e passo às vezes quase um ano sem chorar e tenho certeza que se ele não me desse esse respaldo emocional eu não conseguiria chorar. Sei que isso vem da minha infância porque a minha mãe sempre me dizia para eu engolir o choro e eu engolia, mas agora estou conseguindo me soltar, conseguindo aos pouquinhos sentir o que tenho que sentir. Tenho muita dor, muita raiva, muita coisa aqui dentro para sentir. Tenho a nítida sensação de que o Primeiro Passo já foi dado, ao mesmo tempo que tenho a sensação de que se eu entrasse no DASA e não entrasse em celibato eu jamais conseguiria. Precisei viver tudo o que vivi para entrar em celibato muito consciente de que era aquilo que eu queria, que era aquilo de que eu precisava, de que aquilo iria me servir para alguma coisa. E me serviu enormemente! Acho que foi o período mais difícil que tive no DASA
A única coisa que não consegui fazer e que gostaria de ter feito durante o período de celibato foi um diário de toda a experiência. Já fiz diários algumas vezes, mas isso é muito penoso para mim emocionalmente. A maneira de eu fazer o meu diário foi falando diariamente com a minha madrinha, o que foi uma peça chave. Hoje entendo porque que é tão fundamental ter o apoio de um grupo, de não fazer sozinho o processo de recuperação, não estipular metas sozinho. Eu só tenho a agradecer, não só a tudo isso pelo que tenho passado, como ao DASA num todo, que foi e é essa chave na minha vida. Eu com certeza considero o DASA muito importante para mim, que é a Irmandade pela qual tenho uma gratidão enorme. Agradeço à todos por esta oportunidade e por este depoimento que é fundamental para a minha recuperação, e quero desejar a todos mais 24 horas! Obrigada!
Anônimo
Anorexia 4
Companheiros,
Ao escrever este depoimentop, optei por falar na anorexia em seu todo, e não classificá-la em partes, pois ao meu ver, seria o mesmo que discutir as mais variadas espécies de bebida alcoólica, sendo que o problema não está no tipo de bebida, mas sim, no álcool. Procurei analisar as características básicas da anorexia, e também a sua manifestação e origem. Tudo que será exposto aqui, que fique bem claro, representa a minha opinião e não a opinião de DASA.
Durante o decorrer dos depoimentos dos companheiros ficou claro para mim que a anorexia é uma doença que através do contato físico do anoréxico com as demais pessoas causa-lhe um desconforto físico, mental e espiritual. Ficou muito claro para mim que a raiz da anorexia, esta no egocentrismo. Esse egocentrismo faz com que para alguns a anorexia se apresente como um isolamento crônico, tanto físico como emocional e em outros companheiros, apenas o isolamento emocional. No caso destes, a euforia e a necessidade de ser o centro das atenções, é uma maneira segura de evitar uma real intimidade, pois estando vivendo em grupo, se torna mais difícil, para estes, um contato emocional maior. Este tipo de comportamento, onde a anorexia fica sendo extremamente difícil de ser reconhecida, funciona mais ou menos assim: ser centro das atenções, sim; intimidade, não. Confesso aos companheiros que me enquadro neste tipo de comportamento anoréxico.
Esse egocentrismo, que é o grande responsável pela total incapacidade de manter uma verdadeira intimidade com outro ser humano, gera a incapacidade de amar incondicionalmente os outros seres humanos. Na busca dessa "intimidade" o anoréxico acaba confundindo erroneamente o verdadeiro espírito de intimidade e companheirismo com sexualidade.
A anorexia, ou melhor "egocentrismo", quase sempre impõe ao dependente dois tipos de comportamentos: ou ele se esconde no pé do morro, ou quer brilhar no topo do morro.
Quanto às manifestações da anorexia, que consegui observar tanto na anorexia emocional como na anorexia social e sexual, a que mais se destaca é a manifestação de medos egocêntricos, a preocupação excessiva com os resultados e com a opinião das pessoas, com relação ao nosso comportamento. Fica claro para mim que viver num estado de total preocupação com a própria pessoa torna o isolamento cada vez mais forte. Ora! O que é isso, então, se não o nosso acariciado e protegido egocentrismo? Esses medos, quase sempre infundados, nos obrigam a nos escondermos das pessoas, através do "funil" das nossas "expectativas", por onde ninguém consegue passar.
A seguir, coloco algumas manifestações de comportamentos anoréxicos em comum. São eles:
- Ausência de círculo de amizades.
- Quase sempre o anoréxico limita o seu círculo de amizades a poucas pessoas.
- Dificuldade de expressar suas idéias e sentimentos.
- O anoréxico sente uma enorme vontade de expressar suas idéias, pensamentos, vontades e sentimentos, porém, não o consegue, devido a enorme barreira formada pelas justificativas baseadas em medos egocêntricos.
- Não reagir e não corresponder em ações.
- Isolamento do contato social – fugir de conversas mais íntimas.
- Sentimentos de inveja das pessoas extrovertidas e desinibidas.
- Necessidade de estar em atividades que impossibilitem um maior contato íntimo (trabalho, estudo...)
- Extrema dificuldade de manter contato por telefone.
- Sentimento de inadequação e uma cobrança interior muito grande para sair dessa situação.
- Medo das pessoas cobrarem por um comportamento mais social.
- Dificuldade de se harmonizar e de entrar em sintonia numa conversa de grupo.
- Atitudes extremistas – o anoréxico ou foge através de um isolamento ou se abre inconseqüentemente com pessoas desconhecidas.
- Apagamentos, branco mental durante uma conversação ou explanação. Conversação sem ritmo, sem base, fuga do assunto.
- Uso de mentiras e justificativas para encobrir a realidade solitária.
- Uso da rejeição como um mecanismo de defesa contra a rejeição dos outros.
- Dificuldade de lidar com as emoções. Sentimento forte de vergonha e culpa.
- Insegurança crônica, geradora da extrema necesidade de aceitação, que faz com que o anoréxico se preocupe em suprir as necessidades do outro ao invés das próprias necessidades.
- Dificuldade de receber carinho e a incapacidade de amar incondicionalmente.
- Sentimento de superioridade para esconder a realidade interior: um profundo sentimento de inferioridade.
Quanto aos sintomas da recuperação ficou claro para mim que, ao início da conscientização de que o problema está na própria pessoa e que não está em nenhuma situação externa, de que a solução do problema está na própria pessoa e não em qualquer tipo de fuga, e isso gera um alívio imediato. Ao tomar contato com outros membros que relatam sofrer do mesmo problema, o anoréxico consegue perceber que sofre de uma doença, cujo comportamento não é único e exclusivo, de que na verdade não está só. Isso lhe dá a conscientização de que já não pode mais fugir ou procurar esconder esse comportamento.
Alguns dos sintomas descritos pelos companheiros, relativos a recuperação, são estes:
- Aceitação de que esse tipo de problema não é uma "esquisitice", mas sim, uma doença.
- Melhora da auto-estima.
- Mellhora na racionalização e verbalização.
- Compromisso pessoal de não fugir da raia, de não evitar relacionamentos.
Uma vez tomada a consciência e ter tido a aceitação deste tipo de comportamento dependente, os anoréxicos em recuperação procuram estabelecer uma lista pessoal de comportamentos anoréxicos, seguida de uma lista de critérios de sobriedade. Essas duas listas são fundamentais no processo de recuperação. A primeira é o "leito de rocha firme", onde será construída uma nova vida e a segunda a "bússola" que norteia o caminho da recuperação.
Porém, ao meu ver, tanto o conhecimento dos padrões anoréxicos, como a confecção dos critérios de sobriedade, não proporcionam ao anoréxico o poder necessário para a mudança que resultará na recuperação. E talvez seja essa a grande pedra que atrapalha a recuperação: a falta de consciência da total falta de poder para a mudança de comportamento. Muitos até poderão achar que esta afirmação seja um tanto absurda, pois já tomaram a consciência ao fazerem o 1º passo; porém uma análise um pouco mais detalhada, pode nos dar a verdadeira resposta. O que se verifica, é que na realidade, apenas trocamos de comportamentos, temporariamente, pois não temos o "Poder" necessário capaz de sustentar a nossa precária força de vontade. Falta de Poder; esse foi sempre o motivo da continuidade da nossa doença.
O estudo da literatura, a freqüência as reuniões, o contato com os companheiros, o apadrinhamento, tudo isto é muito bom e necessário para tomarmos a "consciência", o "conhecimento" dos nossos padrões de comportamento, porém, não nos outorgam o Poder necessário para cortar a raiz da anorexia: o egocentrismo. É preciso um Poder Superior à nossa vontade própria para nos libertar através da graça necessária para a dissolução da nossa anorexia.
Acredito que se faz necessário estabelecer critérios de sobriedade, acreditando que são metas que só poderão ser conquistadas através da ajuda de um Poder Superior, ou seja, vivendo na graça de Deus da maneira que cada um concebe a Deus.
Paz e Serenidade e Sobriedade à Todos!
Fraternalmente,
Um DASA em recuperação.
Anorexia 3
Depois de assistir por algum tempo às reuniões de DASA comecei a ouvir falar de uma reunião temática para "anoréxicos". No princípio eu não quis saber de ir, embora eu soubesse que me ajudaria. Eu pensei que não precisava pois me achava uma pessoa normal. Mas, quando finalmente fui para a reunião, eu imediatamente me senti em casa; e a primeira vez em que eu disse: "Meu nome é Elaine e eu sou uma dependente de amor e sexo e anoréxica" meus olhos se encheram de lágrimas.
Naquele momento, percebi que isto era algo que eu estava sempre fazendo comigo, assim como um anoréxico faz com a comida. Eu estava num banquete, mas, passando fome. Não era verdadeira a desculpa de estar só devido ao fato de não conhecer o homem certo. A verdade, é que eu era uma anoréxica sexual, não porque eu não gostava de sexo, mas porque eu nunca havia experimentado uma saudável vida sexual e amorosa.
Assim, o primeiro padrão de comportamento que eu identifiquei e que necessitava imediatamente me abster era o "comportamento de caça". Eu tive que parar de"caçar o Sr. Homem Certo"; ver os homens como seres humanos e não como potenciais parceiros e começar a ser somente eu mesma.
De modo muito interessante, quando eu deixei de caçar, comecei a conhecer homens em todos lugares em que eu freqüentava. Eu aprendi a dar um tempo. Antigamente eu tinha muita pressa de evitar de me sentir abandonada ou de evitar o desconforto de uma possível interação íntima com qualquer tipo de relacionamento social. Comecei primeiramente aprendendo a colocar as pessoas importantes em minha vida e a colocar as atividades adiante. Isto significou fazer coisas tal como agendar uma data para ver as pessoas em minha agenda, não esperando somente por uma chance de encontrá-las ou de ser convidada.
Eu aprendi a me aceitar como uma pessoa única. Comprar uma cama de solteiro, foi para mim, um sinal de recuperação. Embora meu quarto fosse todo abarrotado de coisas, eu tinha uma cama de casal porque eu precisaria dela, mais dia menos dia, para compartilhar com o"Sr. Homem Certo". Eu nunca me mudei para morar definitivamente em determinado lugar pela mesma razão: Qualquer dia eu estaria montando minha casa com o "Sr. Homem Certo", assim, por que desperdiçar tempo e dinheiro decorando ou comprando mobílias agradáveis?
Eu aprendi como agendar e gostar de sair com homens com os quais não fizessem parte dos meus padrões dependentes. Depois de sair durante algum tempo, eu conheci um homem numa festa. Eu comecei a deixar de ir para as reuniões. Sete meses depois nós estávamos casados. Eu estava em negação com relação aos meus medos de intimidade, de compromisso e de compartilhar. Mas o amor conquistaria tudo! Romances repentinos, necessariamente não significam um sinal de falta de recuperação, mas em meu caso significava. O casamento se quebrou depois de dois anos e eu regressei para o DASA e para as reuniões de anorexia. O que aconteceu? Eu aprendi que eu era uma dependente de romance.
Esta é uma doença muito traiçoeira e preciso freqüentar assiduamente as reuniões para me ajudar a me manter longe da negação sobre as coisas que eu faço para rejeitar uma genuína intimidade. O que estou fazendo hoje para repelir as pessoas? O que posso fazer hoje para aumentar minha intimidade? Eu tenho uma tendência para deixar as coisas sempre para a última hora, assim eu não tenho tempo para mim mesma ou para qualquer outra pessoa. Eu preciso aprender a estipular um determinado período de tempo para estar só e outro para estar com as outras pessoas. Apadrinhamento e telefonemas são duas ótimas ferramentas disponíveis para combater a anorexia, porque elas são pessoas esclarecidas. Gosto de uma expressão do DASA: este é um programa de um dia de cada vez.
Eu ouvi falar pela primeira vez em reuniões de DASA para anoréxicos em 1985, depois de estar assistindo regularmente reuniões de DASA durante alguns meses. Eu estava freqüentando os Comedores Compulsivos Anônimos (CCA) desde 1978. Quando eu decidi ir para reuniões de DASA primeiramente eu pensei comigo mesmo: "Eu posso não ser dependente de amor e sexo, mas eu não sei o até a onde eu posso chegar." Eu não me considerava promíscua, assim, tive medo de que eu não me identificaria com a programação. Mas eu estava desesperadamente precisando de ajuda. Eu estava repetindo regularmente um padrão emocional devastador de iniciar relacionamentos apaixonados, me envolvendo sexualmente, para depois de um curto período de tempo, me sentir extremamente deprimida pelo fato da relação não dar certo.
Eu era como um barco emocional à deriva hà aproximadamente dez anos. Eu não tinha uma relação estável e duradoura desde 1981. Depois dos últimos episódios de insatisfação, eu me peguei pensando:"Se é isto que significa viver, então eu não o quero." Alguma coisa estava realmente errada. Eu estava trabalhando durante sete anos os Doze Passos de Comedores Compulsivos Anônimos e eu não estava vivenciando as promessas de recuperação e de serenidade.
Ser uma comedora compulsiva e ser uma dependente de amor e sexo eram formas entrelaçadas de amor anoréxico em minha história. Eu recorria à comida e comia demais em vez de recorrer às pessoas. Eu me sentia envergonhada com o meu corpo e mesmo assim, eu continuava a comer demais. A vergonha era uma parede entre eu e as outras pessoas, um segredo que eu não queria que ninguém descobrisse. Quando eu alcancei a puberdade e comecei a me interessar pelos meninos e o sexo, eu não queria conhecer ninguém e me sentia envergonhada. Eu não queria ser considerada como uma menina louca. Eu era uma criança levada e não queria participar de atividades e usar roupas infantis. Por outro lado eu me sentia inferior às outras meninas que tinham namorados. Eu não me inscrevi em escola superior ou em faculdade, não porque não quisesse; eu não tinha a menor idéia de como fazê-lo. Eu pensava que as outras meninas tinham algo ou sabiam algo que eu não sabia. Era como se algo mágico estava para acontecer comigo, mas eu não sabia o que era. Depois de estar freqüentando o CCA durante alguns anos a coisa mágica aconteceu: e eu soube que eu teria um homem em minha vida. Eu ainda não estou segura de que foi isso que aconteceu, mas eu acredito que tem a ver com o fato de estar menos temerosa de mim mesma, minha sexualidade e minhas relações com os homens. Eu me sentia mais confortável e confiante.
Meu primeiro namorado foi um homem que conheci em CCA quando eu estava com 28 anos. Nossa relação durou um ano. Eu havia sido atraída por muitos homens antes dele, todos homens que eram de uma maneira ou de outra indisponíveis: casados, que estavam se relacionando, viciados, alcoólatras, viajantes ou que não se interessavam por mim, etc. Eu havia me relacionado sexualmente com muitos deles mas nunca tinha tido uma relação duradoura. A primeira relação a longo prazo foi extremamente problemática, mas eu aprendi algumas coisas importantes sobre mim mesma e os relacionamentos: Eu poderia expressar minha raiva em uma relação íntima e poderia desfrutar do sexo. Estava faltando para mim, descobrir que eu não era sexualmente inadequada. Há pouco tempo, eu não mantinha relações sexuais e o desejava muito para me tornar confiante. Depois que aquela relação terminou, levou oito anos até a minha próxima relação de longo prazo. Durante aquele período a insatisfação emocional continuou até que eu comecei a freqüentar as reuniões de DASA.
Minhas atitudes com relação ao sexo, intimidade, relacionamento e amizade estão melhorando lentamente. Embora não durasse o meu casamento e seu fim estava sendo muito doloroso há vários anos, eu me alegrava por ter a experiência de ser uma esposa e mãe.
Eu estou agora numa relação que já dura um ano e meio. Agora eu consigo ter mais intimidade em meu relacionamento do que no meu primeiro relacionamento. Assim, eu posso sentir como estou progredindo lentamente, permitindo ter intimidade em minha vida. Quando eu uso a palavra intimidade, estou falando sobre honestidade. Nós falamos sobre coisas que são difíceis de se falar. Quando eu penso a respeito de algo que eu quero discutir com meu companheiro e sinto medo, eu sei que é a coisa mais importante que preciso falar e eu faço questão de falar sobre isto. Eu lhe conto o que estou sentindo, sobre significantes realizações com relação ao nosso relacionamento e sobre minha vida. Eu fico disponível para escutá-lo. Eu estou aberta para aprender sobre ele, sobre o que ele gosta e repugna.
No passado eu podia ter intimidade emocional ou sexo, mas eu não podia ter ambos. Minha meta é reunir intimidade e sexualidade dentro de uma relação comprometida, com uma relação que crescente em intimidade.
Elaine
Anorexia 2
Olá companheiros! Há algumas 24 horas sou um DASA em recuperação.
Bom, para começar a falar de minha recuperação, acho que estou no caminho certo, embora a minha evolução seja pequena, pois hoje sei que tenho que respeitar minha própria capacidade de recuperação. Nos meus comportamentos sexuais de voyerismo e exibicionismo acho que tive muita melhora. Estou me abstendo de ver filmes pornôs e eróticos há algum tempo. Tenho também evitado meu olhar de radar, este muito mais difícil de controlar.
Mas, o comportamento que mais me atrapalha é a fantasia. Fantasia para mim é tudo que eu faço com a minha imaginação, para fugir da realidade às vezes tão ruim. A fantasia sexual no meu caso também era um problema muito grave, mas eu não sabia que existiam vários tipos de fantasias. Sei que devo me abster de todas elas sem exceção. Mas, meus maiores problemas ainda são os anoréxicos. Também aí estão minhas maiores batalhas no dia a dia. Recaio muitas vezes na anorexia, ela é muito sutil e mexe muito com meu raciocínio.
Na minha anorexia social tive muitos êxitos no início da recuperação, pois estava trabalhando arduamente nesse processo. Comecei indo a bailes, lugares públicos, festas, saía com pessoas diferentes etc... Sempre sem tomar bebidas ou qualquer outro tipo de drogas. Isso me deu muita dor de barriga, mais valia a pena o sacrifício, pois o beneficiado era eu mesmo. Depois de um tempo, relaxei um pouco e aí a doença veio novamente, mas estou pronto para enfrentá-la novamente.
Na minha anorexia emocional, na verdade as dificuldades eram bem menores e não está muito difícil. Na minha anorexia sexual é onde moram os meus maiores bloqueios, pois fiquei afastado de mulheres por um bom tempo e não era um celibato consciente, mas sim anorexia. Mas chegou há poucos dias um relacionamento e eu resolvi enfrentar e correr o risco. Saí 3 vezes com a garota. Ela não faz parte dos meus antigos padrões de namoradas que tinha (meninas muito jovens e que me faziam sofrer muito). Estou tendo muito trabalho para não fantasiar muito e criar expectativas com relação a ela, pois sei que ela pode mudar de idéia de uma hora para outra e eu fico e ver navios novamente. Sei que não posso esquecer minha vida, e me dedicar somente a ela, fazendo com que eu renunciasse minha própria vida para agradar a outra pessoa. Na verdade, eu estou me borrando de medo nesse início de relacionamento. Estou também tentando manter um certo nível de comunicação com ela para estarmos sempre em contato com nossas necessidades e desejos no relacionamento. A questão da transa em si, como sou muitíssimo anoréxico, não posso deixar passar muito tempo sem ter relacionamento sexual, mas precisamos pelo menos de um tempo inicial para podermos nos conhecer um pouquinho mais.
Uma coisa que estou cuidando muito é para não ficar dependente dela como eu ficava antes. Peço ao meu PODER SUPERIOR que me proteja disso. Espero poder ter sido o mais sincero possível nesse depoimento, pois na verdade é isso que está ocorrendo comigo agora. Posso dizer que foi através dessa programação que estou descobrindo o que me faz mal e o que me faz bem.
Desejo a todos muitas 24 horas de sobriedade e paz de espírito, como desejo a mim mesmo.
Um grande abraço a todos os companheiros de jornada!
Um anônimo agradecido
Anorexia 1
A minha anorexia ficou camuflada durante muitos anos e só tomei consciência dela quando entrei em DASA.
Percebia que tinha dificuldades de relacionamentos e dificuldades profissionais, mas não achava que era um problema, mas eu não tinha muita consciência de mim mesma, e ia sendo levada pela vida. Até entrar em DASA, nunca comentei isto com ninguém, porque se comentasse, achava que estaria me inferiorizando.
A minha anorexia estava ligada com a vontade que eu tinha de brilhar. Era egocêntrica no mais alto grau. Não ficava contente com o 2º lugar e daí fazia das tripas coração para poder chegar em 1º lugar. As pessoas sempre me diziam que eu não conseguia paquera porque eu não queria, porque as pessoas sempre me olhavam. Sinceramente, raramente eu percebia alguém me olhando, mas as poucas vezes que eu percebia, desviava o olhar e fingia para todos "que nada havia acontecido". De um lado, isto me fazia muito bem porque eu ficava com o ego em altíssimo nível.
Para o uso externo eu era bonita e sensual e achava que podia ludibriar os outros fingindo que era feliz. O meu referencial de gostar de mim, estava sempre nos outros. Se os outros me procurassem para conversar, passear etc, eu era legal, na ausência disto eu me considerava uma porcaria. Vivi décadas da minha vida tentando fazer das tripas coração para manter os outros perto de mim. Sempre fui arredia a qualquer contato físico, principalmente com pessoas do mesmo sexo e a forma que eu tinha para agradar aos outros era materialmente. Para mim, era como se fosse um pecado mortal eu poder gostar de alguém.
Tinha muita raiva dos meus sentimentos (ainda tenho, mas em menor escala). Os poucos relacionamentos (mais sérios) que tive na vida, foram com pessoas problemáticas (doentes) e sempre dava um jeito deles se rastejarem aos meus pés publicamente para eu passar a ser a RAINHA. Quando a "vitima" se cansava e dava no pé eu passava a ser a vitima e ele o sacana. O problema nunca estava em mim e sempre no outro.
Na anorexia profissional acontecia a mesma coisa. Eu necessitava ser a RAINHA. Eu não podia começar como uma vassala, eu tinha que iniciar como RAINHA. Demorei mais de sete anos para começar a praticar a minha profissão. De um lado foi extremamente benéfico porque eu fui a fundo nos estudos e por outro, maléfico porque aonde se aprende mesmo é na prática.
Hoje vejo que a necessidade que eu tinha de brilhar esta ligada a minha família. Tenho muitos irmãos e fui criada num ambiente de competição em todos os sentidos (amor, afeto, estudos, inteligência, beleza, competência, etc), mas hoje, o problema é meu. Outro problema que tenho ligado a anorexia profissional esta no fato de não saber cobrar pelos meus serviços. Sempre achei que tive uma certa facilidade em relação aos meus valores, então na hora de cobrar o meu serviço fico com pena da pessoa, e normalmente os clientes que me procuram estão passando por dificuldades de uma maneira geral. Um dos meus padrões de comportamento é ter pena dos outros, ou quem sabe tenha pena de mim mesma. Hoje estou trabalhando muito nesta parte da minha vida, afinal necessito viver dignamente e devo cobrar pelo meu serviço sem ter culpa porque EU MEREÇO.
Graças à literatura, a freqüência as reuniões, as partilhas com os companheiros, a prestação de serviços à Irmandade, a pratica dos 12 Passos, tudo isso me fez tomar conhecimento dos meus padrões de comportamento e trabalhar comigo mesma junto ao meu Poder Superior. Na verdade, não gostava mesmo era de mim, tinha uma auto-estima muito baixa e não podia admitir que alguém pudesse me achar interessante ou ser uma boa profissional. Só por hoje o Poder Superior me mostrou que tenho que ser humilde, deixar de ser orgulhosa e que sou uma pessoa igual a qualquer outra pessoa. Para eu reconhecer isto foi muito difícil, até porque a anorexia ficou camuflada durante muitos anos. Só por hoje graças ao DASA, noto que estou menos egocêntrica, me interessando mais pelos outros e pela vida em geral, não necessitando mais brilhar de qualquer jeito, pois melhorou muito a minha auto-estima.
Acabo de vencer mais uma anorexia, que é a anorexia da comunicação escrita. Sempre tive muito medo de colocar as coisas no papel, principalmente sabendo que a minha escrita poderia vir a ser publicada. Tinha medo de cometer erros ortográficos e de concordância, mas necessito vencê-la. Eu sou uma pessoa normal (com qualidades e defeitos) e não preciso ser perfeita. Seja o que o Poder Superior quiser (no fundo o meu medo é o da critica).
Companheiros, muito obrigada por vocês existirem.
Muitas 24 horas de Paz, Serenidade e Sobriedade.
Uma DASA que só por hoje está otimista.
Um pequeno deslize
Eu recentemente tive um pequeno deslize que não envolveu nenhuma atitude adicta, auto-abuso ou remorso. Foi, de fato, um erro tão pequeno, que até sete meses atrás eu não o haveria sequer considerado. Minha esposa e eu assistimos a um filme que não tinha outro propósito senão o de ser um estimulante sexual, e não pude deixar isso de lado. Um ano atrás eu teria escrito uma história pornográfica ou me permitido uma fantasia, e eventualmente o filme desapareceria da minha memória. Seja como for, há sete meses atrás percebi que meus pensamentos poderiam ser comportamentos de adicção.
Não é suficiente o fato de eu não estar mais perdendo a minha vida em atitudes que realizassem meu comportamento adicto, como fiz durante tantos anos. Um dia, em meio à obsessão pelos detalhes de uma história, percebi que a essência da minha adicção não está no meu comportamento, mas sim, no meu pensamento. Eu tenho uma maneira adicta de ver o mundo e neste ponto da minha recuperação ele tem sido tão sutil que apenas eu sei quando estou agindo dessa maneira. Posso ser exposto a imagens que estimulem sexo e que elas desaparecerão se eu não quiser acreditar que estou fazendo parte delas. Mas, se de qualquer forma, eu escolher participar, regrido a um baixo comportamento, e não há força em mim, capaz de me trazer de volta. As imagens entram na minha mente e não consigo bani-las. Neste caso, eu deveria ter contado para a minha esposa que o filme não possuía nada que justificasse assisti-lo. Não fiz isso, e tenho consciência disto, e me vejo numa situação perigosa. É por isso que, após cinco anos e meio de recuperação, tive que recorrer ao telefone de um companheiro de DASA, dizendo-lhe que precisava de ajuda e contando-lhe o que havia ocorrido na noite anterior. Conversamos durante quinze minutos, e quando desliguei, minha serenidade estava recuperada.
Este foi outro milagre proveniente da minha compreensão de nosso programa. Na realidade, para nós, não existem pequenos erros, porque somos impotentes perante o nosso desejo.
Sem esta programação minha indiscrição poderia ter crescido até a proporção do ato.
É por isso que estou a apenas um dia de minha loucura e que a diferença entre a vida e a morte é o DASA..
Bill O. - Mobile, Alabama